sábado, 26 de abril de 2008

uma abelha.


Suponho que como qualquer garoto
Tive um melhor amigo na vizinhança.
O nome dele era Eugene e era maior
Do que eu e um ano mais velho.
Eugene costumava me encher de porrada.
Estávamos sempre brigando.
Eu tentava vencê-lo mas sempre sem muito
Sucesso.

Uma vez pulamos juntos de cima do telhado da garagem
Para provar que éramos valentes.
Torci meu tornozelo e ele saiu ileso
Como manteiga recém-tirada do papel.

Acho que a única coisa boa que ele fez por mim
Foi quando uma abelha me picou no pé descalço
E assim que me sentei para tirar o ferrão
Ele disse,
“vou pegar a filha da puta!”

E foi o que ele fez
Com uma raquete de tênis
Mais um martelo de borracha.

Estava tudo bem
Dizem que de qualquer modo
Elas morrem.

Meu pé inchou e dobrou de tamanho
E eu fiquei de cama
Rezando para morrer

E Eugene seguiu em frente e se tornou um
Almirante ou comandante
De alguma coisa de vulto na marinha dos estados unidos
E conseguiu passar por uma ou duas guerras
Sem se ferir.

Imagino-o envelhecido agora
Numa cadeira de balanço
Com seus dentes postiços
Bebendo seu leitinho...

Enquanto eu bêbado
Masturbo esta tiete de 19 anos
Que divide a cama comigo.

Mas o pior é que
(assim como naquele salto do telhado da garagem)
Eugene segue vencendo
Porque ele nem sequer esta pensando
Em mim.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

sabor de infância.


Nossa estória se passa numa cidade qualquer, num dia normal de sol ameno no outono, segunda feira 10 de abril. Ademir começa a sentir um cheiro indeterminado, meio doce, suave e pouco comum no ar a caminho do trabalho. Segue caminhando seu trajeto normal da sua casa para o trabalho. Não da muita importância ao cheiro, mas o cheiro não lhe é estranho. Ademir da uma cafungada na camisa, debaixo dos braços, mas o cheiro não vem dele. Estranho isso, pensa Ademir, que cheiro será este? Chega no trabalho,liga o computador, mas o raio do cheiro ainda esta nele. Que droga isso, diz Ademir, eu tomei banho antes de sair de casa. Passei xampu, desodorante e das marcas que eu uso a mais de 20 anos. Ademir era fiel a suas marcas, coisa rara num mundo como o de hoje, há 20 anos ele usa o mesmo xampu, o mesmo creme de barba, o mesmo desodorante, toma a mesma marca de refrigerante,etc... Ele ate mesmo quando não tem uma de suas marcas vai a outro supermercado atrás delas. Mas Ademir sente este cheiro que não lhe pertence no seu corpo, não que seja um fedor, por assim dizer, alias não era mesmo um fedor, longe disso. Mas este cheiro faz Ademir pensar, pensar ate demais no assunto. A secretaria bate na porta de seu escritório, Sr. Ademir? Estão te esperando para reunião das duas, diz a secretaria. Esta sentindo este cheiro? Diz Ademir. Que cheiro Sr.? Responde a secretaria.vao andando em direção a sala de reuniões enquanto conversam. Nada, esquece, diz Ademir, que reunião é esta mesmo? A secretaria relembra a Ademir que são os senhores Pedro Fogoso e Julio Cardoso, gerentes da matriz da firma de seguros que Ademir administra a filial. Como o senhor esqueceu disso senhor Ademir? Vão avaliar seu desempenho do ultimo semestre para garantir que o senhor continue empregado aqui. O senhor este bem, seu Ademir? Parece meio distante, pergunta a secretaria, vou lhe buscar um pouco de água. Não precisa, estou ótimo, mas não esta sentindo este cheiro? Pergunta Ademir. Já estavam na porta da sala de reuniões, a secretaria empurra para dentro Ademir meio desajeitado. Já estava dez minutos atrasado.
Boa tarde Ademir, diz Julio, como vão as coisas? Ademir com cara de pateta, resmunga qualquer coisa de volta. Bom, vamos aos negócios? Diz rapidamente o Pedro que é muito serio e não gosta de brincadeiras. Hã? Sim, sim, diz Ademir. Bom Ademir, parece que as coisas estão andando direito por aqui, sua empresa cresceu 5% enquanto as outras filias cresceram cerca de 2 ou 3%. Estão sentindo este cheiro? Pergunta Ademir. Que cheiro, Ademir? Diz Julio que já conhecia Ademir há quase 15 anos, fizeram faculdade juntos, enquanto o senhor Pedro era novo na empresa. Julio uma pessoa tranqüila, divertida, mas sem deixar de ser serio, enquanto o jovem Pedro era seriedade pura e queria mostrar serviço. Senhor Ademir, isso não é hora de piadas, diz Pedro enquanto olha as fichas que trouxe das avaliações anteriores da filial de Ademir. Puta merda, Julio este cheiro esta em mim deste hoje cedo.Que cheiro, Ademir? Esta doido? Julio fala. Nada deixa, diz Ademir. A reunião acaba e Ademir volta a sua sala e diz a secretaria Giorgette que esta muito cansado e vai indo para casa. Mas senhor, são tres e meia da tarde, diz a secretaria. E Ademir sai porta a fora. Caminhando para casa ainda sente este cheiro, parece familiar, e não desgruda dele. Chegando em casa, abre a porta, sua esposa o deixou fazia um mês, fugiu com um jovem que ela conheceu na academia. Ademir se sentiu culpado por isso, foi ele que incentivou a mulher a fazer exercícios. Bem feito, pensava no seu intimo. Que merda de cheiro era este? Será que estou ficando doido? Pensou Ademir antes de dormir.
Uma semana passou, este cheiro maldito não saia de seu corpo. Fazia três dias que não aparecia no trabalho e nem dormia, o cheiro tomou conta de seus pensamentos. Tinha virado uma obsessão era ele e o cheiro. Ademir começou a ficar deprimido, esta idéia fixa não era normal. Pensava que estava enlouquecendo, o que não era muito fora da realidade assim. Ficava vendo tevê, comia pizza na frente da tevê, não fazia mais a barba, estava sem tomar mais banho. Só ele e o cheiro. Ademir depois de quase uma semana finalmente dormiu. Teve o sonho mais real que teve em 52 anos. Ele estava na casa de sua avó, era um dia claro, gostoso como na infância. A avó estava na cozinha e ele na sala. Ela falava de como iam as costuras que ela fazia para fora, das vizinhas que não paravam de fofocar e das novidades das novelas. Ademir se olhou no espelho e estava com uma roupa de marinheiro de criança mas no seu corpo de 52 anos, ficou com muita vergonha de si mesmo naquela situação. A avó ainda falava na cozinha, ele pensava em como tirar aquela roupa horrível e ficar decente para sua velha avó. De repente enquanto ele tentava tirar aquela abominação, sua avó entra na sala com uma travessa. Ele para o que estava fazendo. Olha para a boa velhinha. Era o cheiro! Aquele cheiro que o perseguia havia uma semana, que tirava seu sono, o impedia de trabalhar. O cheiro era dos biscoitos de sua avó. Que ele amava na infância. Nos dias despreocupados na casa da avó, nas tarde vendo tevê e brincando com o cachorro tiao da sua avó. De repente toca o telefone acordando Ademir, ele não esquece o sonho, mas ele atende ao telefone, era a Giorgette perguntando quando ele pretendia voltar ao trabalho. De repente Ademir percebe que o cheiro sumiu. Ele garante que no dia seguinte estará no seu posto. Ademir desliga o telefone e logo em seguida liga para mãe e ela pergunta se esta tudo bem. Ademir responde que agora sim esta tudo na mais perfeita ordem e se era possível ela fazer os biscoitos da vovó.