domingo, 28 de setembro de 2008

a romantica.




No décimo quinto dia do casamento, Dinaura estranhou:
- o que é que há contigo?
Sobressaltado o marido:
- comigo? Nada, por que?
E ela, num suspiro:
Esta com uma cara!
Muito sensível e perspicaz, Dinaura vinha notando o seguinte: que a partir do quarto ou quinto dia da lua-de-mel, Joãozinho deixara de ser o esposo maravilhado e sôfrego. Por exemplo: seus beijos iniciais eram de uma exemplar voracidade e quase a sufocava. Por vezes, queria protestar “que é isso, meu filho? Calma no Brasil.” Ele, numa auto-satisfação profunda, feliz por este temperamento, fazia cabotinismo:
- você ainda não viu nada!
- credo!
E de repente, Dinaura começou a sentir pequenas mudanças e uma serie de de sintomas desagradáveis. Os beijos não tinham nem a mesma intensidade nem a mesma duração. Ele começou a bocejar muito, na sua frente, sem o menor escrúpulo. Dinaura deixou passar uma, duas, três vezes. Por fim não se conteve:
- ih, meu filho!
- o que?
- tão feio isso que você faz!
Espanto honesto de Joãozinho:
- mas eu não fiz nada!
- fez sim! Bocejou na minha frente!
- Ué?
Ela, sentida, desencantada, insistiu:
- considero isso uma falta de poesia tão grande!

Eterna lua de mel

Era filha única, criada com muito mimo. Não podia ter um resfriado, uma coriza trivial, porque a família caía no pânico mais desenfreado. Já era noiva e ainda ouvia recomendações pressagas:
- olha o sereno, Dinaura! Cuidado com a friagem!
Fisicamente frágil, sem saúde: suscetível de gripes constantes e sob a suspeita de sinusite – Dinaura pouco sabia pouco sabia da vida, dos homens e de suas paixões. Tinha ingenuidades das mais alarmantes, infantilidades de tal ordem que um exagerado cochichou, certa vez:
- mas esta menina é uma débil mental!
Nem tanto, nem tão pouco. Fora educada como numa redoma, sem contato nenhum com as coisas feias e turvas da vida. E, alem do mais, dum romantismo frenético. Um estrala mais clara e soltaria a fazia chorar; ouvindo uma reles valsa, desfalecia; e desmaiava também, com certos perfumes. Uma senhora da vizinhança, desbocada e prosaica, tinha mania de dizer “histerismos!”. Mas a família a tratava como se fosse um anjo absoluto, um anjo insofismável. Se Dinaura chorava nas fitas tristes, era um deslumbramento unânime de todos os parentes, inclusive a criadagem. A própria menina começou a ter a vaidade dessa lagrima fácil e tão celebrada. Desde os 12 anos, sonhava com um amor eterno, para si mesma. Quando via uma marido bocejando na frente da mulher, e vice versa, achava uma coisa inimaginável e sacrílega. Jurava,então, para si mesma, que jamais incidiria no mesmo prosaísmo conjugal. Calculava que amaria seu esposo, fosse quem fosse, da mesma maneira, sempre. Uma colega, assanhadíssima, fez o comentário:
- ninguém pode gostar sempre da mesma pessoa! Duvido!
Dinaura teve uma revolta como se a opinião encerrasse, em si mesma, uma obscenidade. Ergueu o rosto, triste e altiva:
- pois eu sou assim.

Desilusão

Casou-se com Joãozinho na convicção de que o amaria sempre como no primeiro dia. Pouco antes do casamento, viu uma fita passada na época de Luís XV. E só lamentou, na saída do cinema, que o noivo não usasse punhos de renda, como os nobres daquele tempo. No quarto ou quinto dia de lua de mel, viu-o bocejando. Ate então ela não fizera nada parecido, preservando a poesia das maneiras, palavras e roupas. Era tão minucioso seu controle que, de vez em quando, ia ate o quarto passar perfume nas mãos. E, depois de cada refeição, escovava os dentes por causa do hálito. Enfim, fazia tudo que humanamente possível para que ele a considerasse, sempre, uma “grande esposa”. Enquanto ela agia assim, que fazia o marido? Acusava os primeiros sintomas de tédio. Ela, com o máximo de descrição, gemia:
- eu acho que te dou sono, meu anjo. Você boceja tanto!
Ele explicava, em meio de novo e espetacular bocejo:
- é o estomago cheio. Como para chuchu!
E como, ao longo dos dias, ele continuasse bocejando e assumindo atitudes cada vez mais prosaicas, ela se deixou tomar pela melancolia:
- só te digo uma coisa: antes morrer que ser traída!
Foi uma atitude tão extemporânea, tão sem lógica, que Joãozinho fez o natural espanto:
- sossega, leoa!
Mas notou que os olhos da menina estavam marejados. Veio beijá-la na face. Ela, sem comentário, passando as costas da mão nos olhos, observou: “não foi na boca! Foi na face!”. Ele, preocupado com futebol, corridas, cinema e amigos, não deu maior importância a episodio. No café, em conversa com amigos, observou para um deles, que acabava de noivar.
- casamento é um golpe errado! O sujeito que casa é burro!

Novos amores

Outros sintomas, cada vez mais típicos, de desinteresse, foram aparecendo. Dinaura achava a maternidade, textualmente, “uma coisa sublime”; casara-se na presunção, no desejo de, pelo menos, um filho. E quando, já na previa adoração da criança futura, falou nisso, Joãozinho foi rotundo:
- filho é abacaxi!
Dinaura gelou, por vários motivos, inclusive pela gíria abominável. Parecia-lhe uma profanação de um termo tão ordinário. Podia ter protestado, mas sua revolta se esvaia, geralmente, em suspiros, melancolias e cólicas de fígado. Fez uma nova insinuação em forma de pergunta:
- se eu morresse, você ficaria triste?
Ele foi grosseiro:
- ora, Dinaura. Vai dormir que teu mal é sono! Que conversa!
Ele, porem, foi para o quarto, na frente. Lá, de pijamas, deitou-se na cama, abriu o jornal e concentrou-se no programa turfístico. Daí a pouco, a mulher vinha deitar-se ao seu lado; e suspirou:
- não tenho medo nenhum da morte. Nenhum, nenhum.
Joãozinho perdeu, de todo, a paciência:
- oras bolas! Vê se não chateia!
A expressão “chateia” doeu na moça, e fisicamente, como uma punhalada. Ela concluiu, com impressionante facilidade “se ele me diz isso é porque não me ama, deixou de me amar!”. E, por coincidência ou não, o fato é que esta conversa foi o ponto de partida para uma transformação em suas vidas.
Sensível, imaginativa, Dinaura dizia a si mesma dias depois “ tem outra.”

A outra

Então, dia a dia, a jovem esposa não podia ver o marido, que não falasse em morrer. Ele arranjara um biscate na policia e andava com um revolver enorme. Todas noites, Dinaura olhava aquela arma numa espécie de fascinação. E, agora, era mais direta:
- olha o que eu te avisei, Joãozinho: se tu me traíres, eu me mato, Joãozinho.
A principio, ele deixava se impressionar. No fundo, era um bom rapaz, com horror a defuntos; e, se pudesse, ninguém morreria, nunca, em lugar nenhum. Mas a ameaça da esposa, repetida ate a exasperação, deixou de comove-lo. E mesmo seus amigos de bilhar, de corridas, foram categóricos:
“é conversa fiada!mentira!”. então, ele não ligou mais aos gemidos da mulher, aos suspiros, e nem observou que ela emagrecia de uma maneira assustadora, que estava cada vez mais frágil e com os pulsos finos e transparentes. Uma noite, Joãozinho chegara em casa com um mau humor sinistro. Tivera um bate boca com uma pequena de dancing, que era uma de seus grandes rabichos pos matrimoniais. A titulo de distração, resolveu limpar o revolver. A mulher, ao lado, com seu ar de mártir, olhava, ora o marido, ora o revolver. Ate que começou a bater na mesma tecla: que,um dia, se matava; que se atirava debaixo de um bonde, de um ônibus. Ele, pensando na outra, explodiu:
- ótimo!
E ela:
- eu sei que é ótimo, sim!sei que você deseja a minha morte! Mas não faz mal, deus é grande!
Então, o rapaz, que acabara de limpar a arma e de recolocar as balas no tambor, teve uma atitude de cinismo, que não era muito de seu temperamento. Virou-se para Dinaura e ofereceu p revolver:
- querendo usar, não faça cerimônia! O prazer é todo meu!
A mulher recuou, num súbito medo daquela arma tão próxima e terrível. Viu-o aproximar-se, com a mão estendida. Encostada na parede, ainda balbuciou:
- não brinque, João! Olha que deus castiga!
Mas ele, na sua alegre e picolla crueldade, insistiu:
- toma! Segura!
Em câmera lenta, ela foi estendendo a mão, ate que apanhou a arma. E a olhava, com surpresa, fascinada. Dir-se-ia que jamais vira um revolver. O marido diante dela, esperava também; achava graça; dizia:
- é só puxar o gatilho. E pronto!
Como ela continuasse atônita, no pavor histérico da arma, berrou,afinal:
- ora, não amola! Vê se não chateia!
Foi talvez a expressão “chateia” que a decidiu. Puxou o gatilho seis vezes. O marido foi atingido uma vez, duas no peito, quis correr, fugir. Mas lhe faltaram forças; caiu de joelhos e assim, de joelhos, foi varado por mais duas ou três balas. Morreu logo e seu ultimo pensamento foi a pequena do dancing.

nelson rodrigues 1912 + 1980 - retirado de "a vida como ela é...elas gostam de apanhar" - editora agir.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

o encontro.


lua cheia, noite lenta, cada segundo se arrasta pelo relógio na parede. Conto os minutos incontáveis. Eles se sucedem um a um, esta chegando a hora. Ponho um terno preto, gravata, um chapéu coco e meu relógio de bolso. Pego o jornal e dou uma olhada nele, quero saber as manchetes do dia de hoje. Crise na bolsa, pessoas pulando da janela dos prédios em manhattan por terem perdido todo dinheiro em ações , recessão, crise mundial. O próximo passo é com certeza uma guerra em escala mundial. Mas os jornais de amanha terão outra historia. Eu vou fazer a historia. Me olho no espelho e acerto a gravata. Relógio finalmente bate doze horas. Saio e caminha pelas ruas em direção ao meu encontro definitivo. A rua vazia cheira a podridão e desespero. A cada passo vou mais firme e com mais segurança rumo ao encontro com meu destino. Paro diante de uma vitrine que expõe objetos antigos e livros raros, olho uma edição da bíblia em alemão datada de 1830. entro na loja e resolvo compra-la. Saindo folheio alguns versículos e passagens da bíblia. Um me chama a atenção, engraçado isso. diz o seguinte "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" . eu conheco a verdade mas hoje eu me libertarei. Caminho pelo lower east side ate chegar no grand edimburg’s pub. Entro e espero pelo meu encontro. Peço uma cerveja verde. Nada mais garçon, obrigado.
Cerca de meia noite e quarenta, chega o meu encontro. Eu nao o conhecia pessoalmente. Mas ele sabia bem quem e como eu era. Ele veio ate minha mesa e falou:
- voce é o paul? – fiz que sim com a cabeça – posso sentar?
- por favor, vai beber alguma coisa?
- nao, obrigado. Gostaria de lhe perguntar uma coisa antes. Posso?
- claro, sinta-se a vontade.
- bom, primeiro de tudo gostaria de saber por que?
- o por que é dificil dizer, acho que nao obtive tudo que esperava de meu antigo socio. Acho que esta na hora de uma coisa nova e mais radical. Achei que voce era a unica outra opção.
- e voce sabe o preço, nao é?
- sim, sei. Acho que barganhar nao é uma opção. Estou ciente dos meus custos. E sinceramente? Acho pouco. Mas sei que você é um bom negociante. Nunca entra para perder.
- Sim, isso lá é verdade. Mas apesar da minha fama não gosto de enganar os outros. Você sabe o que custará? E ainda assim quer continuar?
- Sim, com certeza.
- entao esta bem, assine aqui por favor. – peço a caneta dele – aqui esta! Depois disso nao tem mais volta, sabe bem, não é?
- sei, esta tudo bem. – assino o documento – e agora esta tudo certo?
- sim, esta. Sua alma é minha a partir de agora. E fez isso só para ter sucesso no campo da musica?
- talvez, mas acho que deus nao é bem o que deveria me guiar daqui por diante.
- sei, alias otimo livro este que você tem ai. Edição rarissima. Espero que tenha uma boa leitura, embora agora te seja pouco util.
-Obrigado pela dica. – ele vira as costas e sai, enquanto olho de novo esta velha biblia – vejamos o que os santos dizem neste momento.
Abro a biblia e leio um versiculo assim "Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar."
25/09/2008
15:09hrs.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Detetive lesma e o sumiço do caixa.


Sábado a tarde, dia chuvoso, ligo para Carminha e ver se ela pode vir aqui me fazer uma visita. Peço que ela de uma passada na locadora “o gosto do video” do meu parceiro Clovis e pegue uns filmes que ele me prometeu. Clovis é gente fina. Conheço ele a quase dez anos, fazíamos muita farra na adolescência. Quando ele abriu a locadora a três anos atrás eu fiz uns bicos lá como atendente especializado em musica.vida de detetive não é fácil as vezes. Carminha chega com os filmes e um saco de pipoca de micro ondas e me fala:
- lesma, o Clovis disse que não tinha o Shaft que tu queria. Só o novo.
- porra Carminha, o que tu trouxe ai de filmes?
- efeito zero, cliente morto não paga, que tu pediu e peguei um para mim o embriagado de amor...este filme é tão bonitinho...vamos ver este agora.
- ta, que seja...esta chuva esta de matar. Vai lá e faz esta pipoca de uma vez. Vou por o filme no dvd.
- ah, o Clovis pediu para tu dar uma passada lá...alguma coisa a ver...hum...ele disse, mas não lembro.
- deixa ele para lá, agora faz este pipoca e vem ficar juntinha em mim. O frio não esta fácil.
Na segunda vou lá na locadora devolver os filmes. Quando chego na porta esta fechada e a placa confirma isso. mas sei que o Clovis esta lá dentro. Dou uns gritos na janela dos fundos. Ele me olha pelo buraco da veneziana e vem abrir a porta. Esta nervoso, a locadora toda revirada e ele começa a me xingar:
- porra lesma, te chamei aqui no sábado? Por que não veio antes? Seu viado!
- caralho Clovis, a Carminha disse que tu queria falar comigo. Não me disse o que era. Achei que era alguma besteira tua. Mas vejo que era importante...
- porra meu chapa, o bruninho que trabalha aqui a tres meses, sabe quem é? Aquele da tatuagem do metallica? – concordo com a cabeça e ele prossegue – pois é este filho da puta sumiu com toda feria do mês. Só ele sabe aonde eu guardo isso, e fui lá no mocó ontem para pegar um troco para sair com a veia, sabe, dar um trato legal nela. E tinha sumido TUDO! Eu mato este desgraçado. Se eu pego ele...
- seu imbecil é isso que dá contratar este drogados da zona para pagar esta mixaria que tu paga...mas tem certeza que foi ele? Ele não ia se queimar contigo, sabendo que tu é amigo dos contatos dele aqui na zona. Iam enquadrar ele na hora, não parece muito inteligente da parte dele fazer isso...
- só pode ter sido ele, lesma, na boa. Tanto que nem veio trabalhar hoje. Vou MATAR este corno.
- olha Clovis, quem vai falar na boa sou eu. Duvido que foi ele...vou investigar por ai. E os filmes...- passo os dvds para ele – te pago depois isso. – que concorda e vira as costas furioso revirando tudo em volta tentando achar a grana.
Vou direto na casa do bruninho, que fica perto da praça ucraniana, na rua kiev. No meio da quadra já sei que ele esta em casa, o som da para se ouvir a quilômetros. Metallica arrebentando os auto falantes. Chego na porta e toco a campanhia. Nada de responderem, grito e plenos pulmões e nada. Começo a ficar nervoso, quando começo a ouvir uns gritos histéricos vindo de dentro da casa. meto o pé na porta, e invado a casa. os gritos estão cada vez mais altos, vou caminhando em direção ao que parece uma cena do “massacre da serra elétrica”. Chego na porta de onde estão vindo estes gritos pronto para achar o Jason com o facão na mão. Giro a maçaneta e vejo o bruninho de cuecas fazendo um air guitar na frente do espelho. O cheiro de maconha esta muito forte, deve ter fumado 500 baseados. Dou um grito e ele se vira para mim cagado de susto.
- PORRA GURI, BAIXA ESTA MERDA! DA PARA SE OUVIR DE LONGE!
- ah lesma, como tu entrou aqui? – e abaixa o volume – nem ouvi nada. Du caralho este disco novo do metallica, né?
- nem ia ouvir coisa alguma, este volume esta muito alto. Por que não foi trabalhar seu cretino?
- hoje é domingo. Por que iria?
- seu merda hoje é segunda! Não sabe nem que dia é hoje. O Clovis quer te matar. Sumiu o dinheiro todo da locadora. Ele esta pensando que foi tu. É bom se apresentar na locadora e JÁ! Para dar uma explicação a ele. Mas neste estado cheio de erva na cabeça não vai dar. Toma um banho, passa uma água na cara. Toma um café preto sem açúcar sei lá...mas vamos de uma vez.
- mas não fiz nada lesma! – faço sinal para ele se mexer – ta ta, já estou indo.
Fico no quarto vendo a coleção de playboys e ouvindo o disco do metallica, muito bom mesmo, eu já tinha pulado do barco depois do “st. Anger” este novo eu vou comprar. Com certeza. Depois de uns vinte minutos vem o bruninho com um café na mão e de banho tomado.
- lesma, não sei o que houve, mas não fiz nada! Juro por deus.nao sei nada de dinheiro nenhum...
- ta, cara, te acalma. Eu também acho que tu não fez nada. Mas vamos lá para falar com ele. Ele esta uma fera.
Descemos a praça, bruninho ainda acendeu outro baseado no caminho, e eu dei um tapa no pé do ouvido e expliquei que era uma situação seria e não era piada. Ele pediu desculpas e fomos caminhando e conversando sobre este disco do metallica chegamos na frente da locadora e falei para o bruninho:
- fica frio que tu não fez nada. Fala devagar e com calma. Ele vai estar querendo teu sangue. – entramos e o Clovis tinha revirado tudo e veio na nossa direção enquanto terminava a frase – conheço o Clovis.
- porra seu viado! Cadê meu dinheiro! Eu vou te matar! – gritou Clovis quando viu o bruninho – CADÊ ESTA PORRA? EU TE MATO!
Segurei Clovis no meio do caminho que vinha para rachar o outro ao meio, enquanto este se encolhia num canto para se esconder. Falei algumas coisas tipo “calma gente, somos adultos”; “isso não vai levar a nada, vai partir o guri ao meio e não vai ver teu dinheiro mais”. Ate que Clovis se acalmou e começamos a conversar como gente grande. Então bruninho disse:
- Clovis, na sexta tu me mandou ir buscar um xis ali no betão. Eu peguei dez reais do mocó do dinheiro e fui lá. lembra? Depois não mexi mais lá.
- hm...eu botei mais cem reais lá. e não mexi mais também. Então, se eu não mexi e tu não mexeu cadê meu dinheiro, desgraçado?
- tu mexeu sim, disse que ia levar a Clotilde para sair no fim de semana, lembra? Que ia levar ela naquele sushi ali perto do shopping? E tirou os dvds da frente do mocó para contar quanto tinha ali. – fiquei só olhando a cara dos dois enquanto iam se acertando – disse que ia tirar uns trezentos reais...
- poutz! Foi sim, contei o dinheiro. Agora estou lembrando. Tinha quase mil reais ali. E resolvi por o dinheiro debaixo do saco de lixo, quando tu saiu, eu pus ele ali. – e Clovis foi ate a lata de lixo levantou o saco a lá estavam os 1257 reais dele.
Começamos todos a rir disso. Quando lembrei do por que o nome da locadora era “gosto de vídeo” e falei:
- Clovis, lembra por que tu batizou a locadora de “gosto de vídeo”? – já que estávamos todos amigos de novo – por que tu tomava direto um chá de fita...queria ver tu fazer chá de dvd...hahahaha.
Tudo resolvido, fui embora e passei na casa da Carminha. Dona Magda atendeu a porta e entrei no quarto da Carminha que estava deitada vendo televisão e falei:
- te arruma gostosa, hoje vamos ir no sushi ali perto do shopping...
- ah é?
- o que tu esta vendo ai?
- curtindo a vida adoidado.
Tirei os tênis, me sentei ao lado da Carminha na cama e pensei “salve ferris”.

16:24hrs
11/09/2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

hard to handle - tradução.


Baby aqui estou
Eu sou o homem na cena
Eu posso dar o que você quer
Mas você tem que vir para casa comigo

Eu tenho do bom e velho amor
E um pouco mais no estoque
Quando eu acabar de joga-lo para você
Você tem que voltar para mais

(Refrão)
Hey meu amor,
Deixar-me acender sua vela
por que estou difícil de lidar agora

Meninos e coisas que vêm em dúzias
Aquilo não é nada além de convencional
minha garota linda deixe-me iluminar sua vela
'Mama por que eu sou assim dificil de lidar agora
Sim eu sou

A ação fala mais alto do que palavras
E eu sou um homem de experiência grande
Eu sei que você tem um outro homem
Mas eu posso amá-la melhor do que ele

pegue minha mão não tenha medo
Eu vou provar cada palavra que eu digo
Eu estou anunciando amor de graça
Assim você pode colocar seu anúncio comigo

(refrão)

Os meninos vêm como moeda de dez centavos em dúzias
Nada além de amor convencional
Minha garota linda deixe-me iluminar sua vela
por que eu sou dificil de lidar agora
Sim eu sou

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

quase igual a sua vida, quase igual a sua crise sem fim.


Saindo do trabalho cruzo com uma antiga namorada, vamos a um bar para conversar um pouco. Rola um chopp, um salgadinho, um pouco de papo furado. Quando a bebida começa a mexer com o melão começo a falar da minha vida mais profundamente. Clara também já bebeu um pouco demais e estava bem solicita e aberta a sugestões. Vamos ate o apartamento novo dela. Chegando lá, eu abro uma garrafa de vinho tinto enquanto ela pega as taças. Ela bota um CD do Elvis Costello e sentamos para continuar nosso papo. Estávamos os com alguns problemas na vida pessoal e não nos víamos a alguns anos. Ela continuava a mesma pelo tom que falava, sempre tinha que ter a palavra final e muito critica em relação as minhas atitudes, eu por outro lado estava mais razoável nos meus pontos de vista. Pelo menos eu acho e como sou eu que estou contando a historia fiquemos com meu ponto de vista. Depois do terceiro copo de vinho a conversa estava assim:
- Jonas, tu nunca vai achar uma mulher que te ature. tu é sempre um coitado nas situações, tu tem que ser mais macho. Mais homem. Mulher quer um cara mais ativo, você sempre fica chorando por tudo. “aquele atendente da locadora me olhou torto. A caixa do cinema riu de mim. O cobrador do ônibus achou que...o cara na fila do super mercado não sei o que” que saco isso. vê se cresce. Tu não é mais adolescente para ter crises deste jeito.
- Clara, isso não é mais verdade. Já passei disso. Já cresci o bastante para saber meu espaço no mundo e tu por outro lado ainda fica numas de sentimentalismo rasteiro. Por isso seu atual fica arranjando desculpas para não vir aqui. Só vem quando quer alguma coisa de você, e não é seu arroz com feijão. Sem duplo sentido, se bem que...
- ah seu cachorro, tu sempre amou meu arroz com feijão. No sentido que quiser. Ou estou mentindo?
- faltava sal, no seu feijão. Nos dois sentidos. Mas enfim, que CD é este? Não é aquele que te dei no dia que tu ficou chorando por que não conseguiu aquele emprego no colégio aquele? Como era o nome mesmo?
- ah jonas cala a boca. Aquele CD eu joguei fora quando a gente terminou. Dei para uma amiga. Não queria ter nada seu comigo. Este é o novo do elvis costello, baixei ele semana passada. Mas me diz, você esta com alguém? ainda não começou a reclamar dela ainda. Tu sempre vê defeito em tudo. Parece um velho, e dos bem ranzinzas. Então me fala.
- clara, conheci uma garota. Mas esta num estagio inicial, não tenho do que me queixar AINDA. Mas tu que era a fonte de muitos dos meus problemas. Tu não sabe amar direito. Sempre quer ter a “upper hand” de tudo. Me diminuía em todas as situações. Me sentia um merda ao seu lado. Me gozava na frente dos seus amigos, dos MEUS amigos. Para sua família...vai me serve outro copo deste vinho. Estou afim de me embebedar hoje. Tu me desperta este lado. Depois de você ate parei de beber quase.
- chora, chora, chora neném. Viu só como reclama? tu não sabe é ser HOMEM. Se fosse homem mesmo por que não me retrucava. Seu bunda mole. – e serve o vinho, se levanta e vai na cozinha pegar outra garrafa – sabia que todos meus amigos te achavam bicha? Tu sempre estava numas...sei lá...
- porra, é assim é? – servindo o vinho que esta quente, mas a esta altura eu já estava alto. - E tu não me defendia? E o que tu dizia para aqueles putos? Só por que eu deixava tu conversar em paz com outros caras? Isso faz de mim viado?
- mas tu é um bunda mole mesmo. Eles estavam me cantando seu babaca. E tu ficava num canto em todas as festas com um copo de cerveja na mão e me deixava rodar por ai.
- claro, eu odeio boates, não sei nem dançar um “dois para lá, dois para cá” e tu sempre queria dançar. Te deixava na sua. E de mais a mais, era para mim que tu voltava. Não para aqueles galãs ordinários de boate ou seus amigos maconheiros. Devia ser por isso que me chamavam de bicha...porra.
- tu nunca me entendeu mesmo, jonas. Eu voltava para ti por que achava que se te desse um pé na bunda tu ia te matar ou algo assim. Tu estava bem iludido na época. Era dureza. Mas também, tu não era de todo mal, só não consigo lembrar o por que de ter me apaixonado por ti.
- é eu sei como é. Também não lembro o por que fui me apaixonar por uma “control freak”, obsessiva por mandar nos outros como tu. E sempre tem que ter razão...mas, na boa, tu era bonita, nunca entendi o por que de tu ficar comigo tanto tempo.
- seu “drama queen”, já vai começar com isso DE NOVO? Eu ainda me lembro a choro que tu fazia com este assunto. “ah tu me ama mesmo? O que eu fiz para tu te apaixonar por mim”...etc. algumas coisas simplesmente SÃO. Não tem explicação.
- chega, chega, chega...acho que vou embora. Isso já esta virando sessão de analise. E estou totalmente torto de vinho. Vou chamar um táxi. Olha, sinceramente? Não foi nem um pouco bom te rever, sorte ai na sua vida e tal. Mas acho que vou embora...
Levanto e vou me dirigindo para a porta, trocando as pernas e reclamando da vida em voz alta, como que falando comigo mesmo. Quando escuto uma voz atrás de mim, totalmente embriagada também me chamar.
- jonas, seu babaca. Não te trouxe aqui para ouvir tuas historias tristes nem para reclamar do meu namorada novo. Quando te vi só parei para conversar por que tu sempre me deu um tchãm e estou meio carente. Então vem, vou te mostrar o que um sazon faz com meu arroz com feijão...
E a noite passa, o relógio bate as doze horas e tudo fica com cara dos velhos tempos. Quase igual a minha vida, quase igual a minha crise sem fim.

08/09/2008
20:21 hrs

terça-feira, 2 de setembro de 2008

detetive lesma e o cheiro da morte


Cidinha veio ate meu escrotorio, por volta das seis da tarde para irmos no parque de diversões que estava na cidade. Fomos para a parada de ônibus e esperamos a condução. Acendi um cigarro enquanto discutíamos quem era melhor se a PJ Harvey ou a Fiona Apple. Discussão inútil, Cidinha era louca por Fiona Apple. Tentei argumentar que a linda Polly era mais cantora, mais letrista. Mas Cidinha era irredutível, estava a meses ouvindo o disco “extraordinary machine”. E me calei por que o disco novo da PJ era meio ruim. Já havia algumas pessoas na parada quando o ônibus chegou. Entramos e quando passei pela roleta gritam lá do fundo “LESMA, MEU CHAPA!!”. Era meu velho camarada da escola, o Cadelão, fazia alguns anos que não nos víamos. Rumei com Cidinha de arrasto ate o fundo e nos sentamos. E Cadelão e eu começamos a conversar.
- porra lesma, faz o que da vida agora?
- sou detetive particular, Cadelão.
- é mesmo? Você sempre foi fã do Columbo, que bacana para você...
- é e você, o que anda aprontando? Não estava trabalhando de camelô?
- pois é, estava, mas agora...hm...detetive, né?
- pois é...
- você tem um cartão seu aí? – fiz sinal quem sim – me dá um ai, está é minha parada, eu te ligo...
E Cadelão desceu e eu e Cidinha rumamos para o parque com ela reclamando que nem apresentei ela ao meu chapa. Roda gigante, montanha russa, algodão doce, maçã do amor e começou a cair uma garoa e voltamos para casa. Passaram alguns dias e o Cadelão me ligou pegou meu endereço e chegou aqui. Logo que entrou pediu uma bebida, servi um copo de whisky para ele e outro para mim, conversa fiada por uns 15 minutos e ele disse o que queria:
- lesma, não peguei seu cartão para rememorar o tempo do colégio. Estou com um problema em casa. Minha mulher esta achando que estamos sendo vigiados, digo que é loucura dela, mas estou ficando com a mesma impressão.
- Cadelão, por que alguém estaria vigiando vocês?
- lesma, meu camarada, estou metido num esquema de drogas, sei que você não usa estas coisas. Ate foi por isso que parei de falar com você...mas agora, este nervoso o bagulho. Acho que tem gente querendo acabar comigo para pegar meu ponto.
- Cadelão, porra, se você sabe o por que, não entendo o que quer de mim.
- eu quero saber QUEM lesma, QUEM, aí resolvo o resto.
- tudo bem, vou dar uma olhada. Mas sabe, não trabalho de graça.
- dinheiro não é problema meu chapa...
E foi-se embora, servi um whisky do bom que escondo no fundo falso da gaveta e me servi uma dose cavalar. Este tipo de trabalho eu normalmente não aceito, risco muito grande e pagamento muito pequeno. Mas como era meu velho amigo, resolvi fazer esta mão. Fui ate a boca que Cadelão atende e comecei a dar uma olhada na situação, conhecer a flora e a fauna. Sentei num boteco e fiquei olhando o movimento, sou bem falante e desembaraçado e depois de pagar algumas doses de cachaça para dois ou três bebuns estava inteirado na situação. Voltei para meu escrotorio e liguei para Cidinha, fazia um tempinho que não nos víamos e ela veio ligeirinho. Na tarde seguinte voltei ao mesmo boteco e lá estavam os mesmos bebuns, mais uma cachacinha e descobri o concorrente do Cadelão, foi moleza. Comecei a me perguntar se era tão fácil por que ele me enrolou nisso. Cheguei na porta da casa de Cadelão e bati, chegou um metaleira branquinha de cabelo bem preto, magrinha, linda e com os olhos bem pintados de preto, na porta. Ficou me encarando por um longo período com uma cara desconfiada ate que falou:
- o que você quer, heim?
- o Cadelão esta?
- quem é Cadelão?
- o Arandir, desculpe, sou um amigo dele. Ele esta ai?
- não sei aonde ele anda, faz dois dias que não vejo ele.
- então ta, diz para ele que o que o lesma esteve aqui. Vou deixar meu cartão tem o meu numero e do celular, OK?
Voltei para casa e fiquei na minha, não tinha muito o que fazer. Mas estava meio nervoso com este assunto do Cadelão, ate que quase uma semana depois toca o telefone. Era a mulher do Cadelão, falamos um pouco e ela desligou.Cidinha estava no sofá vendo o dvd do “cheiro do ralo”. Fui ate meu escrotorio abri uma garrafa nova de whisky do bom, voltei para o sofá e me sentei totalmente arrasado quando Cidinha perguntou:
- o que houve, lesma? Que cara é esta?
- mataram o Cadelão!
- aquele do outro dia?
- sim, aquele mesmo.
Matei o copo num só gole fui e me servi outro copo de whisky, sentei no sofá, cidinha me abraçou forte mas esta frase do filme não saia da minha cabeça “a vida é dura”.

02/09/2008
19:04 hrs.