segunda-feira, 8 de setembro de 2008

quase igual a sua vida, quase igual a sua crise sem fim.


Saindo do trabalho cruzo com uma antiga namorada, vamos a um bar para conversar um pouco. Rola um chopp, um salgadinho, um pouco de papo furado. Quando a bebida começa a mexer com o melão começo a falar da minha vida mais profundamente. Clara também já bebeu um pouco demais e estava bem solicita e aberta a sugestões. Vamos ate o apartamento novo dela. Chegando lá, eu abro uma garrafa de vinho tinto enquanto ela pega as taças. Ela bota um CD do Elvis Costello e sentamos para continuar nosso papo. Estávamos os com alguns problemas na vida pessoal e não nos víamos a alguns anos. Ela continuava a mesma pelo tom que falava, sempre tinha que ter a palavra final e muito critica em relação as minhas atitudes, eu por outro lado estava mais razoável nos meus pontos de vista. Pelo menos eu acho e como sou eu que estou contando a historia fiquemos com meu ponto de vista. Depois do terceiro copo de vinho a conversa estava assim:
- Jonas, tu nunca vai achar uma mulher que te ature. tu é sempre um coitado nas situações, tu tem que ser mais macho. Mais homem. Mulher quer um cara mais ativo, você sempre fica chorando por tudo. “aquele atendente da locadora me olhou torto. A caixa do cinema riu de mim. O cobrador do ônibus achou que...o cara na fila do super mercado não sei o que” que saco isso. vê se cresce. Tu não é mais adolescente para ter crises deste jeito.
- Clara, isso não é mais verdade. Já passei disso. Já cresci o bastante para saber meu espaço no mundo e tu por outro lado ainda fica numas de sentimentalismo rasteiro. Por isso seu atual fica arranjando desculpas para não vir aqui. Só vem quando quer alguma coisa de você, e não é seu arroz com feijão. Sem duplo sentido, se bem que...
- ah seu cachorro, tu sempre amou meu arroz com feijão. No sentido que quiser. Ou estou mentindo?
- faltava sal, no seu feijão. Nos dois sentidos. Mas enfim, que CD é este? Não é aquele que te dei no dia que tu ficou chorando por que não conseguiu aquele emprego no colégio aquele? Como era o nome mesmo?
- ah jonas cala a boca. Aquele CD eu joguei fora quando a gente terminou. Dei para uma amiga. Não queria ter nada seu comigo. Este é o novo do elvis costello, baixei ele semana passada. Mas me diz, você esta com alguém? ainda não começou a reclamar dela ainda. Tu sempre vê defeito em tudo. Parece um velho, e dos bem ranzinzas. Então me fala.
- clara, conheci uma garota. Mas esta num estagio inicial, não tenho do que me queixar AINDA. Mas tu que era a fonte de muitos dos meus problemas. Tu não sabe amar direito. Sempre quer ter a “upper hand” de tudo. Me diminuía em todas as situações. Me sentia um merda ao seu lado. Me gozava na frente dos seus amigos, dos MEUS amigos. Para sua família...vai me serve outro copo deste vinho. Estou afim de me embebedar hoje. Tu me desperta este lado. Depois de você ate parei de beber quase.
- chora, chora, chora neném. Viu só como reclama? tu não sabe é ser HOMEM. Se fosse homem mesmo por que não me retrucava. Seu bunda mole. – e serve o vinho, se levanta e vai na cozinha pegar outra garrafa – sabia que todos meus amigos te achavam bicha? Tu sempre estava numas...sei lá...
- porra, é assim é? – servindo o vinho que esta quente, mas a esta altura eu já estava alto. - E tu não me defendia? E o que tu dizia para aqueles putos? Só por que eu deixava tu conversar em paz com outros caras? Isso faz de mim viado?
- mas tu é um bunda mole mesmo. Eles estavam me cantando seu babaca. E tu ficava num canto em todas as festas com um copo de cerveja na mão e me deixava rodar por ai.
- claro, eu odeio boates, não sei nem dançar um “dois para lá, dois para cá” e tu sempre queria dançar. Te deixava na sua. E de mais a mais, era para mim que tu voltava. Não para aqueles galãs ordinários de boate ou seus amigos maconheiros. Devia ser por isso que me chamavam de bicha...porra.
- tu nunca me entendeu mesmo, jonas. Eu voltava para ti por que achava que se te desse um pé na bunda tu ia te matar ou algo assim. Tu estava bem iludido na época. Era dureza. Mas também, tu não era de todo mal, só não consigo lembrar o por que de ter me apaixonado por ti.
- é eu sei como é. Também não lembro o por que fui me apaixonar por uma “control freak”, obsessiva por mandar nos outros como tu. E sempre tem que ter razão...mas, na boa, tu era bonita, nunca entendi o por que de tu ficar comigo tanto tempo.
- seu “drama queen”, já vai começar com isso DE NOVO? Eu ainda me lembro a choro que tu fazia com este assunto. “ah tu me ama mesmo? O que eu fiz para tu te apaixonar por mim”...etc. algumas coisas simplesmente SÃO. Não tem explicação.
- chega, chega, chega...acho que vou embora. Isso já esta virando sessão de analise. E estou totalmente torto de vinho. Vou chamar um táxi. Olha, sinceramente? Não foi nem um pouco bom te rever, sorte ai na sua vida e tal. Mas acho que vou embora...
Levanto e vou me dirigindo para a porta, trocando as pernas e reclamando da vida em voz alta, como que falando comigo mesmo. Quando escuto uma voz atrás de mim, totalmente embriagada também me chamar.
- jonas, seu babaca. Não te trouxe aqui para ouvir tuas historias tristes nem para reclamar do meu namorada novo. Quando te vi só parei para conversar por que tu sempre me deu um tchãm e estou meio carente. Então vem, vou te mostrar o que um sazon faz com meu arroz com feijão...
E a noite passa, o relógio bate as doze horas e tudo fica com cara dos velhos tempos. Quase igual a minha vida, quase igual a minha crise sem fim.

08/09/2008
20:21 hrs

Nenhum comentário: