terça-feira, 2 de setembro de 2008

detetive lesma e o cheiro da morte


Cidinha veio ate meu escrotorio, por volta das seis da tarde para irmos no parque de diversões que estava na cidade. Fomos para a parada de ônibus e esperamos a condução. Acendi um cigarro enquanto discutíamos quem era melhor se a PJ Harvey ou a Fiona Apple. Discussão inútil, Cidinha era louca por Fiona Apple. Tentei argumentar que a linda Polly era mais cantora, mais letrista. Mas Cidinha era irredutível, estava a meses ouvindo o disco “extraordinary machine”. E me calei por que o disco novo da PJ era meio ruim. Já havia algumas pessoas na parada quando o ônibus chegou. Entramos e quando passei pela roleta gritam lá do fundo “LESMA, MEU CHAPA!!”. Era meu velho camarada da escola, o Cadelão, fazia alguns anos que não nos víamos. Rumei com Cidinha de arrasto ate o fundo e nos sentamos. E Cadelão e eu começamos a conversar.
- porra lesma, faz o que da vida agora?
- sou detetive particular, Cadelão.
- é mesmo? Você sempre foi fã do Columbo, que bacana para você...
- é e você, o que anda aprontando? Não estava trabalhando de camelô?
- pois é, estava, mas agora...hm...detetive, né?
- pois é...
- você tem um cartão seu aí? – fiz sinal quem sim – me dá um ai, está é minha parada, eu te ligo...
E Cadelão desceu e eu e Cidinha rumamos para o parque com ela reclamando que nem apresentei ela ao meu chapa. Roda gigante, montanha russa, algodão doce, maçã do amor e começou a cair uma garoa e voltamos para casa. Passaram alguns dias e o Cadelão me ligou pegou meu endereço e chegou aqui. Logo que entrou pediu uma bebida, servi um copo de whisky para ele e outro para mim, conversa fiada por uns 15 minutos e ele disse o que queria:
- lesma, não peguei seu cartão para rememorar o tempo do colégio. Estou com um problema em casa. Minha mulher esta achando que estamos sendo vigiados, digo que é loucura dela, mas estou ficando com a mesma impressão.
- Cadelão, por que alguém estaria vigiando vocês?
- lesma, meu camarada, estou metido num esquema de drogas, sei que você não usa estas coisas. Ate foi por isso que parei de falar com você...mas agora, este nervoso o bagulho. Acho que tem gente querendo acabar comigo para pegar meu ponto.
- Cadelão, porra, se você sabe o por que, não entendo o que quer de mim.
- eu quero saber QUEM lesma, QUEM, aí resolvo o resto.
- tudo bem, vou dar uma olhada. Mas sabe, não trabalho de graça.
- dinheiro não é problema meu chapa...
E foi-se embora, servi um whisky do bom que escondo no fundo falso da gaveta e me servi uma dose cavalar. Este tipo de trabalho eu normalmente não aceito, risco muito grande e pagamento muito pequeno. Mas como era meu velho amigo, resolvi fazer esta mão. Fui ate a boca que Cadelão atende e comecei a dar uma olhada na situação, conhecer a flora e a fauna. Sentei num boteco e fiquei olhando o movimento, sou bem falante e desembaraçado e depois de pagar algumas doses de cachaça para dois ou três bebuns estava inteirado na situação. Voltei para meu escrotorio e liguei para Cidinha, fazia um tempinho que não nos víamos e ela veio ligeirinho. Na tarde seguinte voltei ao mesmo boteco e lá estavam os mesmos bebuns, mais uma cachacinha e descobri o concorrente do Cadelão, foi moleza. Comecei a me perguntar se era tão fácil por que ele me enrolou nisso. Cheguei na porta da casa de Cadelão e bati, chegou um metaleira branquinha de cabelo bem preto, magrinha, linda e com os olhos bem pintados de preto, na porta. Ficou me encarando por um longo período com uma cara desconfiada ate que falou:
- o que você quer, heim?
- o Cadelão esta?
- quem é Cadelão?
- o Arandir, desculpe, sou um amigo dele. Ele esta ai?
- não sei aonde ele anda, faz dois dias que não vejo ele.
- então ta, diz para ele que o que o lesma esteve aqui. Vou deixar meu cartão tem o meu numero e do celular, OK?
Voltei para casa e fiquei na minha, não tinha muito o que fazer. Mas estava meio nervoso com este assunto do Cadelão, ate que quase uma semana depois toca o telefone. Era a mulher do Cadelão, falamos um pouco e ela desligou.Cidinha estava no sofá vendo o dvd do “cheiro do ralo”. Fui ate meu escrotorio abri uma garrafa nova de whisky do bom, voltei para o sofá e me sentei totalmente arrasado quando Cidinha perguntou:
- o que houve, lesma? Que cara é esta?
- mataram o Cadelão!
- aquele do outro dia?
- sim, aquele mesmo.
Matei o copo num só gole fui e me servi outro copo de whisky, sentei no sofá, cidinha me abraçou forte mas esta frase do filme não saia da minha cabeça “a vida é dura”.

02/09/2008
19:04 hrs.

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