segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Segunda seguida de lua


Cinzas do cigarro caem na calçada
Calada e deixada de lado
Á espera de um sopro que lhe dê vida
Esquecendo de ser escondida a flor brota
E leva o perfume da manhã de outono
Para o coração da minha amada
Pára para dar um olhar em mim
E sorrir enfim...enfim...enfim....

28/12/2010
01:58hrs
Marcelo Riboni

sábado, 25 de dezembro de 2010

Derrotado na linha de frente.


Cerveja na mão e um dia infernal pela frente.
O calor já vem subindo e quem puder agüente,
Água ardente se fez presente logo para abrir os trabalhos
E deixar palatável mais uma celebração do consumismo.
Como sumimos desta data? Como?
Sorrisos falsos são só isso e nada mais...

Marcelo Riboni
24/12/2010
11:29hrs

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Interno

Sentado com um copo na mão,
Eu brindo o novo ano.
Esmagado em memórias de tragédias.
Sozinho.Digo um FODA-SE bem grande e
Mais um ano, mais um ano e mais um ano...

Marcelo Riboni
13/12/2010
23:07hrs

sábado, 20 de novembro de 2010

Nota do Autor - O homem duplo

Este é um romance sobre algumas pessoas que foram punidas excessivamente pelo que fizeram. Elas queriam se divertir, mas eram como crianças brincando na rua; podiam ver uma depois da outra sendo mortas – atropeladas, mutiladas, destruídas -, mas continuavam a brincar de qualquer forma. Nós realmente fomos todos felizes por algum tempo, sentados sem trabalhar, só dizendo besteira e brincando, mas foi por uma época curta e terrível e depois o castigo foi inacreditável: por exemplo, enquanto eu estava escrevendo este livro, soube que a pessoa na qual é baseada a personagem Jerry fabin se matou. Meu amigo, em que baseei a personagem Ernie Luckman, morreu antes que eu começasse o romance. Por algum tempo, eu mesmo fui uma dessas crianças que brincavam na rua; como o resto delas, tentei brincar, em vez de crescer, e fui punido. Estou na lista daqueles a quem este romance é dedicado, e que se tornou de cada um deles.

O abuso de drogas não é uma doença; é uma decisão, como a decisão de sair da frente de um carro em movimento. Não chamaria isso de doença, mas de um erro de julgamento. Quando um monte de pessoas começa a fazer isso, é um erro social, um estilo de vida. Nesse estilo de vida em particular, o lema é “seja feliz agora porque amanha você vai morrer”, mas a morte começa quase ao mesmo tempo e a felicidade é uma lembrança. Ele é, então, só uma aceleração, uma intensificação da existência humana comum. Não é diferente de seu estilo de vida, é apenas mais rápido. Acontece em dias, semanas ou meses, em vez de anos. “Pegue o dinheiro e deixe o credito continuar”, como disse Villon em 1460. Mas esse é um erro se o dinheiro é uma moedinha e o credito, toda vida.

Não há moral neste romance, ele não é burguês, ele não diz que eles estavam errados em brincar quando deviam estar trabalhando; só conta quais foram as conseqüências. No teatro grego, eles estavam começando, como sociedade, a descobrir a ciência, que significa lei casual. Aqui, neste romance, há Nêmese: não destino, porque qualquer um de nós pode ter escolhido parar de brincar na rua, mas, como narro na parte mais profunda de minha vida e de coração, uma Nêmese pavorosa para aqueles que continuam a brincar. Eu mesmo não sou uma personagem deste romance, sou O romance. E o mesmo para a nossa nação nessa época. Este romance trata de pessoas que conheci pessoalmente. Alguns de nós leram sobre isso nos jornais. Foi esse sentar com nossos amigos e falar besteira enquanto gravávamos fitas, a decisão ruim da década, os anos 60, dentro e fora do establishment. E a natureza foi exigente conosco. Fomos obrigados a parar por coisas pavorosas.

Se houve algum “pecado”, foi o de que essas pessoas queriam continuar a se divertir para sempre e foram castigadas por isso, mas, como eu digo, sinto que, se assim foi, o castigo foi grande demais e prefiro pensar nisso somente de uma forma grega ou moralmente neutra, como mera ciência, como causa e efeito imparcial e determinista. Eu amava todos eles. Aqui esta uma lista, a quem dedico o meu amor:

A Gaylele – falecida
A Ray – falecida
A Francy – psicose permanente
A Kathy – dano cerebral permamente
A Jim – falecido
A Val – dano cerebral maciço permanente
A Nacy – psicose permanente
A Joanne – dano cerebral permanente
A Maren – falecida
A Nick – falecido
A Terry – falecido
A Dennis – falecido
A Phil – dano pancreático permanente
A Sue – dano vascular permanente
A Jerri – psicose permanente e dano vascular

E assim por diante.
In memorian. Esses eram camaradas que eu tive; não existem melhores. Eles continuam em minha mente e o inimigo nunca será perdoado. O “inimigo” foi o erro que cometeram em brincar. Que todos brinquem de novo, de outra forma, e que sejam felizes.

Philip K. Dick.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Caminho da loucura

Caminho direto pelo corredor
Abrindo as portas e olhando para dentro.
Tudo escuro, sem luz, sem nada.
Os olhos procuram algo mas não vêem
O pânico toma conta, o grito preso na garganta e
Ele não quer sair e começa a agonia.
Os braços e as pernas tremem e o desamparo,
A solidão, a tristeza e a loucura entram em ação.
Não há um único pensamento na cabeça.
Fecho os olhos e vou dormir sozinho.

05/10/2010
22:30hrs
Marcelo Riboni

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Crônica em um parágrafo

Leia ouvindo “After Laughter ( Comes Tears)” na versão de Wendy rene

Baseado em um filme que vi estes dias chamado “Contra a Parede”, digo que as pessoas perdem oportunidades de ouro na vida. Não digo isso só em cima do filme, mas da minha vida em geral. Perdem oportunidades de ouro de ficarem caladas, de falarem coisas importantes ou de só sorrir. Muitas vezes nas relações ficam arestas, ficam magoas mas entre as pessoas certas nunca fica a maldade. Ok, as vezes uma maldade é boa para apimentar uma piada, para servir de estimulo para que o interlocutor se sinta incomodado ao ponto de sorrir, mas repito isso só serve entre quem se conhece a ponto de permitir uma coisa assim. Hoje em dia é muito, mas muito fácil para alguém se ofender a troco de banana, como disse antes as pessoas perdem oportunidades de ouro na vida. Se eu for falar da minha perdi um bocado delas mas estou correndo atrás do prejuízo. Estava conversando com alguém e disse – gostaria de voltar no tempo – e a pessoa respondeu – hahahaha e saber o que você sabe hoje. – e eu disse – não, gostaria de voltar no tempo e só saber ouvir. Este sempre foi um grande defeito meu, não saber ouvir com a devida atenção e quero corrigir isso rapidamente. Porque ando descobrindo que as melhores coisas da vida só são descobertas ouvindo, prestando atenção e percebendo a sabedoria de algumas atitudes de algumas pessoas. Este é o grande segredo de tudo, saber quando ouvir e quando falar e saber quem realmente esta aí para você. O resto é só mímica, jogo de cartas marcadas e uma charada. Como disse um grande escritor eu citaria duas frases dele, mas uma farei mais tarde, - você só sabe quem são seus amigos quando você vai preso – e eu estou preso numa vida sem sentido a muito tempo e poucas foram as pessoas que se importaram comigo neste período. A segunda frase dele é ótima e diz o seguinte – escritores são todos uns cretinos e os piores cretinos são os poetas. – na qualidade de poeta e pseudo escritor me sinto a vontade para dar boas risadas disso que ele disse. Então você que esta me lendo agora, não perca seu tempo com cretinos e não deixe oportunidades de ouro passarem na sua vida.

22/09/2010
16:25hrs
Marcelo Riboni

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fim de Festa

Eu vejo o brilho de ódio nos olhos deles,
Vejo eles fazerem escárnio, sim eu escuto as risadas,
Mas eles sabem que estão derrotados, por dentro.
Eu venci, eu venci a batalha interna, minha comigo mesmo.

Que dêem festas, tenham amigos, façam sexo
Eu estou bem comigo e de bem comigo mesmo.
Minhas trevas viraram um céu azul de brigadeiro.
Agora eu posso sentar e sorrir para o nada.

20/09/2010
15:03hrs
Marcelo Riboni

domingo, 5 de setembro de 2010

Lua da tarde de julho

Uma menina olhou pelo vidro do carro e sorriu para mim, acenei de volta com a mão e acelerei me perdendo nas faixas da auto estrada. Cada vez mais rápido, seguindo sem rumo em direção ao litoral. Era inverno e eu buscava somente paz, silencio e solidão. Levava comigo algumas cervejas, cigarros e uns livros. Dos livros eu dispensava, mas numa emergência, vai saber? Uma hora e meia depois estava abrindo minha casa de praia, o cheiro de casa fechada me acertou em cheio. Larguei uma mala de mão no chão com algumas roupas e levei as cervejas para a geladeira. Fui acendendo um cigarro e olhando em volta. Abri o sofá cama e deitei, acordei era noite. Tomei um banho e fui ver o que tinha para comer. Excelente, uma lata de sardinhas e mais nada. Abri a primeira cerveja junto com um cigarro. Voltei para o sofá e liguei meu ipod, coloquei um cd do theloniuns monk. Este cara era ótimo, e tinha transtorno obsessivo compulsivo que o fazia antes de cada show dar três voltas em torno do piano. E aquela mania maluca por chapéus. Quando estava acabando a cerveja peguei minha carteira na mala e dei a ultima tragada no cigarro. Fui ate onde o carro estava estacionado, entrei e dei a partida. Estava com fome, mês de julho na praia., será que teria algum restaurante aberto? Provavelmente, pensei. E segui ate a praia vizinha por uma estrada muito ruim.

Conforme as casas ai se tornando mais freqüentes, todas vazias, fui diminuindo a velocidade. Entrei no centro da cidade e estava tudo deserto. Circulei por uma quadras e parei na frente de um lugar que parecia servir comida e estava aberto as 11 horas da noite. Entrei e veio o dono, que estava ali junto com mais um ou outro bêbado inveterado., na minha direção. Perguntou “o que vai ser, amigo?” e respondi “uma Brahma bem geladinha, camarada.” Ele voltou para atrás do balcão para pegar a cerveja e um daqueles copos que eles mantém dentro da geladeira. Me trouxe a bebida e os fregueses me olharam e fiz um sinal de continência para eles. Rapidamente bebi a garrafa toda, o dono olhou lá de trás e eu disse “outra!!” e me levantei para ir pegar. Bebi umas três garrafas além da que tinha bebido em casa antes de sair. No sistema de som da lugar tocava um pagode horrível e chato para caralho. Me levantei e perguntei ao dono do lugar “camarada, aonde posso comer alguma coisa esta hora?” ele olhou para o relógio e fez “shhhh” me olhou nos olhos e disse “desce duas e lá vai ter um lugar, não é nada elaborado para esta hora. Ou pode tentar o cachorro quente da barraquinha perto da beira mar”. Sorri para ele e disse brincando “no hot dog my friend” e sai do bar. Fui ate meu carro e encontrei umas meninas encostadas nele conversando. Deviam ter uns 16 ou 17 anos. Todas bem arrumadas, claro para quem mora no litoral, mas mesmo assim estavam bem. Quando cheguei perto do carro gritei “XÔ! VAMOS ANDANDO MOÇAS” e elas começaram a fazer piadas para mim. Abri a porta e uma disse “ô tio, da uma carona para a gente. Estamos sem fazer nada, vamos tio” parei para refletir uns instantes. E abri a porta para elas estilo cavalheiro e as três, eu disse que eram três antes? Não? Pois as três entraram e gargalhando entre elas perguntaram “para aonde titio?” liguei o radio do carro num cd do Frank Sinatra e eu falei “comer meninas, comer” elas acharam graça e se puseram a rir todas em uníssono.

Cheguei no restaurante que o dono do bar havia indicado, era um lugar dos mais ralés que já havia visto e quando entrei com as meninas risonhas não ajudou muito a melhorar o aspecto. Chegou uma garçonete perto de mim e disse “pois não?” resposta “cerveja”. Ela deu meia volta e foi buscar a cerveja. As meninas rindo e se divertindo achando graça de tudo perguntaram “titio, paga uma cerveja para a gente, paga” e eu disse “que idade vocês tem mesmo?” e elas de novo em uníssono responderam “temos 18 titio” e quando a garçonete chegou deixei elas pedirem o que queriam. A garçonete fez cara feia e fui buscar mais duas garrafas para as meninas. Foi quando eu perguntei “qual é o nome de vocês, meninas, e o que estavam fazendo no meu carro?” a primeira, loirinha com os cabelos verdes de tanto cloro disse “ eu sou a Clarissa, esta aqui do lado é a Juliana e aquela ali é a Drica. E o que mais você quer saber mesmo?” ao que eu disse “não importa mesmo, vamos beber a saúde de quem?” nisso houve um pequeno bate boca entre elas, aparentemente Clarissa queria beber em homenagem aos estudantes, e as outras duas em homenagem ao dia aniversario de Juliana. Eu falei “vamos beber em homenagem as estudantes que estavam de aniversario” elas riram e começamos a beber em silencio. Nisso Drica se levantou e começou a dançar ao som de algum tipo de ruído indistinguível que estava tocando nas caixas de som que supostamente alguns chamam de musica e pegou a mão de Juliana e começaram a dançar coladinhas e de uma forma sensual. Fiquei olhando aquilo e baixando cervejas, depois de três garrafas e daquelas danças sugeri a Clarissa que convidasse as amigas para irmos comer um delicioso cachorro quente na barraquinha perto da praia. Se juntaram as três e marcharam em direção ao meu Fiat punto.chegamos na barraquinha e estava caindo uma chuvinha fininha, daquelas que gelam a alma. Comemos conversando eu a Clarissa, as outras duas estavam correndo pela areia da praia. Ela perguntou o que eu fazia e eu disse “não faço nada, achei que fazia mas não faço nada realmente” e ela riu e perguntou com a boca cheia que profissão eu tinha e eu disse “sou catador de papel, ok?” comemos nosso cachorro quente e quando chegamos perto das outras duas elas começaram a tirar a roupa para entrar no mar.


As duas entraram no mar só de calcinha e sutiã enquanto Clarissa me pedia para entrar que ela também queria tomar banho de mar. Nisso olhei para o relógio e vi que eram duas da manhã. Enquanto Clarissa ficava de calcinha eu tirava as minhas calças para me juntar as outras duas já dentro da água. Clarissa me pegou pela mão e quando chegamos perto vi que as duas estavam se beijando na boca dentro da água. Fomos para junto delas e nisso comecei a beijar a menina loirinha, que me retribuiu o beijo de forma intensa. As duas vieram para perto de nós e começamos a brincar ali mesmo, dentro da água. Clarissa pegou meu pau e começou a me masturbar dentro da água gelada do mar de inverno. Fomos sendo empurrados pelas ondas para fora do mar e deitamos todos na areia da beira rindo de tudo e nada. Drica me deu um puxão para não cair do empurrão que Juliana lhe deu e nisso caímos os dois. Deitado rindo feito idiota na areia molhada Clarissa começou a me chupar. E as duas em volta a se beijar. Juliana veio e me deu um beijo na boca enquanto estava passando as mãos na bunda de Drica e as duas sentaram do nosso lado e começaram a fazer sexo. Clarissa tirou sua calcinha encharcada e sentou em cima de mim e remexendo como uma enguia me beijando. Fizemos tudo que tinha para fazer ali mesmo e depois deitamos na areia molhada da chuva fininha que ainda caia. Todos em silencio. Estendi a mão e peguei no bolso da calça meu maço de cigarros, acendi três. Um para cada, mas Drica não fumava e ficamos todos deitados fumando. Passou um tempo e olhei para o relógio, eram 4 horas da manhã. Comecei a me levantar e me vestir e as meninas fizeram o mesmo em rindo e se empurrando. Entramos no carro e deixei elas aonde as havia encontrado, na frente daquele bar. Me despedi e Clarissa perguntou “como você se chama, ate agora não disse.” E eu respondi “Pedro” e ela disse “adeus Pedro” e bateu a porta. Comecei acelerando devagar e olhando elas pelo retrovisor. A medida que me distanciava acelerei mais. Quando cheguei em casa dormi direto. No dia seguinte acordei meio dia e fiz café, acendi um cigarro e abri um dos livros que havia trazido. Tropico de câncer que começava assim “Estou vivendo na Vila Borghese. Não há um resquício de sujeira em parte alguma, nem uma cadeira fora do lugar. Estamos completamente sozinhos aqui e estávamos mortos. Ontem á noite Boris descobriu que estava com chatos. Tive que raspar-lhe as axilas e mesmo depois disso a coceira não passou. Como alguém pode adquirir chatos num lugar bonito como este? Mas isso não tem importância. Talvez nunca nos tivéssemos conhecido tão intimamente, Boris e eu, se não fossem os chatos...”

Marcelo Riboni
05/09/2010
21:40hrs

sábado, 4 de setembro de 2010

flash

Grita no meu ouvido,
Grita bem alto a plenos pulmões.
Deixe o mundo saber o tamanho
Da sua fúria, deixa ela sair
Devagar de dentro de ti.
Devagar você vai fazer tudo voltar
Ao lugar de onde nunca devia ter saído.
Deixe as duvidas num canto esquecido.

Meu amor eu te amo,
Sinto cada olhar, cada tom de voz,
Trazendo dentro de si uma vontade feroz
De fazer tudo ficar do seu jeito.
Você não pede, você não manda,
Você simplesmente me apóia.
Quando os ratos já pularam do navio
Você afunda junto, lavando todo seu ódio.

Para cada veneno, para cada malícia
Em cada toque e em cada caricia
Você tem todas as respostas e assim,
Fazemos os dias virarem minutos.
Passam as estações e passam os anos
E estamos juntos um pelo outro.

Marcelo Riboni
04/09/2010
19:54hrs

domingo, 29 de agosto de 2010

Lonely Heart club

Desdejásoucapaz
Deolharparatráse
Verasatitudesque
Desembocaram
Numfuturosem
Passadoestadode
Êxtase catatônico
Olhandoumafoto
Epensandoque
Podiatersidooutra
Coisaoutrahistoria
Masvocêescolheu
Assimeassimfezas
Coisasparapoder
Dizereufizaminha
Parteaindasintoo
Mesmoqueantespor
Quemeucoraçãobate
Portimeninamulher
Mulhermaduraque
Deixaarazãoacima
Dossentidospena.


Marcelo Riboni
29/08/2010
12:51hrs.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Memento

Parados no momento da imagem
Mas o som segue seguindo em altos brados.
Felicidade se faz de tristezas podres
Para guardar aqueles sentimentos dobrados.

Cala a boca, porra. Silêncio e mais nada.
Agora somos fantasmas de uma outra vida.
Realidade distorcida multiplica sofridão.
Quem vai pagar para ver o furo da bala?

Aqui ninguém é santo, todos somos culpados.
De pecados inomináveis e abomináveis,
E fingir que tudo é comemoração parece o certo.
Tristes finais de contos de fadas ao contrario.

Fugir do reflexo e das reflexões,
Para onde a razão faça de tudo um por do sol.
Naquele fim de tarde de outubro
Com o “eu te amo” escrito no muro.
E ir para além das memórias, além das historias,
Incendiar a cidade como Nero, é o que eu quero e
Deixar tudo em cinzas, para fazer tudo morrer
Na saudade de um olhar esquecido para nunca mais ter.

Marcelo Riboni
17/08/2010
01:01hrs.

sábado, 7 de agosto de 2010

Musicas e Poemas de Amor

Musicas são como poemas de amor.
Nunca acabam, sempre surgem mais e mais,
Quanto mais longas as musicas piores são os poemas.
Cada vez que ouço o lamento do piano sinto um coração
Se partir em algum lugar, só, sem rumo e sem pena,
Que irá destruir outro coração mais gentil só por revolta,
De ter que sofrer, sofrer sozinho nunca é bom.
Queremos sofrer um dupla, em turma e em um grande estádio
Para não ver nosso próprio sofrimento invadir a mente.
Com idéias de tudo que deixamos ou que fizemos a mais.
Musica, um, dois, três e quatro. Vamos lá uma nova batida
Uma sacudida aqui e outra acolá para tirar os sentidos
Do lugar e de vez em quando esquecermos que somos
Sozinhos, únicos e sem parceria na vida. Deixem as musicas
E os poemas de amor jorrar pela veia de quem sabe sofrer.

Marcelo Riboni
21:00hrs
07/08/2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Recordações

Recordar é viver? Recordar para esquecer,
Recordar para aprender a não errar.
Esquecer para num futuro diferente
Aprender a esquecer de não esquecer.

Fotos, musicas e perfumes,
Fatos que apagam os pequenos detalhes.
Dores vividas, alegrias passadas.
Lado a lado de uma vida encerrada.

Quero já novas musicas, novas fotos,
E novos perfumes para voltar a sofrer;
E voltar a lembrar que ainda posso;
Que a vida ainda brilha ao som do jazz.

Luz negra, sons distantes e inconstantes
Fazendo a paisagem de um por do sol cor de rosa.
Fazendo passagem para um lugar ideal
Aonde a vida funcione de modo sem igual.

Poemas e poesias, realidades e fantasias.
Tudo rabiscado em letras desiguais
Numa folha de jornal com a data de hoje,
Para guardar e lembrar de um dia esquecer.

Marcelo Riboni
03/08/2010
22:36hrs

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quando nada esta aqui

Como vão as coisas, pessoa?
Tudo esta em ordem? E a família?
Notas de desespero gritam do fundo
Da alma despedaçada pela vida
Esquecida, reprimida, controvertida.
Que muda a cada olhar para frente
E quem entende esta longe e talvez
Nunca mais volte. É a minha sorte.

Momentos cada vez mais raros;
Momentos cada vez mais caros;
Que custam um sonho, um querer
E quem se deixa sofrer por sentimentos
De vidas perdidas, de lembranças esquecidas
Que violentam a recordação, atormentam a razão.
Nada mais esta no mesmo lugar, tudo bagunçado,
Sem nenhuma ordem, para sempre e para nunca mais
Estar junto para sorrir e ouvir o perfume dar seu alô.

Marcelo Riboni.
29/07/2010
20:14hrs.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cilada

Dentro da pior situação de todas é a que me encontro agora. Preso num quarto escuro, com uma mordaça na boca. As algemas nos pulsos machucam a cada movimento mais brusco que eu tento fazer. Faz parte do meu trabalho, eu acho. Detetives estão para todas, e geralmente para as piores mesmo. Ligam a lâmpada presa por um fio no teto e me dão um tapa na cara. Ouço risadas no fundo e não enxergo nada, depois recebo um banho de água gelada para acordar de vez. “escuta aqui rapaz, - me dizem – você vai cantar ou vai esperar ate virar patê?”. Devolvo um sorriso abafado pela mordaça e grito vários palavrões. Recebo o troco, mais porradas na cara e choques elétricos. Nem grito mais, já estou nesta a alguns dias. Eu não sou mole, não vou entregar a rapadura. Meu ganha pão é este. Depois de mais alguns socos na cabeça eles vão embora e me deixam com minha dor e meu sangue escorrendo. Tento cuspir, mas a mordaça não permite. Também não consigo respirar direito, estes caras estão começando a me irritar. Acabo pegando num meio sono, meio desmaio.

Olho o sol nascendo por uma janelinha cheia de poeira que fica a minha direita, como estou no subsolo que é tipo aquelas que se vê na televisão em garagens. Escuto alguns barulhos vindo do lado de fora desta prisão que me encontro, parece um pouco com um esmerilho. Dou um sorriso, vou resistir o Maximo que eu puder. Mas eles não vão fazer nada enquanto eu não falar o nome de quem me mandou aqui. Como disse, estou nessa a alguns bons anos. Na verdade não tão bons assim, mas esta é a única coisa que sei fazer depois que deixei a policia. Fiquei pensando no tenente quando mandei ele tomar no olho do cu, por que ele estava pegando no meu pé demais e sai porta afora só voltando para pegar meu ultimo ordenado. Nunca fui um bom subordinado, receber ordens não é bem comigo. Agora o barulho do esmerilho aumenta e fico só olhando a porta. Olhando é modo de dizer, estou com os dois olhos totalmente inchados de tanto apanhar. A porta abre e a surpresa toma conta de mim. Vejo uma menina de uns dezoito ou no Maximo vinte anos com uma coisa parecida com uma furadeira, mas para cortar em vez de furar. Desta vez eles se superaram, muito bom. Mandar uma loirinha de dezoito anos para me torturar. Mas para minha surpresa ela com este aparelho corta as algemas e me diz “vai, te manda daqui. E diz para o meu pai que estou bem. Quando eu puder ligo para ele”.E é exatamente o que eu faço.

Passo duas semanas na casa da minha namorada, cuidando de mim para que eu fique bom. Ou como ela diz “para que você fique supimpa”, supimpa!!! Eu mereço mesmo. Como me roubaram o celular e quebraram ele todinho quando estava naquela maldita garagem não me preocupei muito com o trabalho por uns tempos. Então quando estava mais ou menos recuperado fui procurar o Dr. Luiz Inácio, para relatar tudo que tinha me ocorrido e o que eu tinha visto e ouvido. Quando cheguei na rua dele, num bairro nobre da cidade, parei na frente do prédio. Prédio com porteiro e câmera de vigilância. Toquei para falar com o porteiro, um negrão grande e forte que impunha o respeito necessário para um prédio daqueles, avisei meu nome e o que eu fazia ali. Esperei uns minutos do lado de fora do portão ate ouvir o BZZZ da porta se abrir. Ele me olhou da cabeça aos esparadrapos colados por todo meu corpo e disse “pode subir, o andar é o oito, o Dr. Inácio esta lhe esperando”. Fiz um sinal de positivo e apertei o botão do elevador. Enquanto esperava fiquei olhando em volta e observando “Rá ali tem uma câmera. Ali tem outra”. Chegou o elevador e entrei nele. Elevador com musiquinha e Dr. Luiz Inácio mora num andar todo, a porta do elevador dava na sala dele.

Quando chego no andar tem uma empregada me esperando na porta, mais uma vez como fora na saguão com o porteiro, ela me olha e pensa “quem sera este Zé todo estropiado que esta aqui?”, mas pede por favor para eu aguardar na sala ate que o Seu Inácio me chame e é o que eu faço pensando com meus botões “eu sou um belo cãozinho adestrado. Espera, senta, pula e agora apanha”. Mas para minha surpresa quando entro na sala quem eu vejo? Quem? Quem? QUEM? Ninguém menos que aquela adorável anjinha loira que me libertou do meu cafofo esperto com surras como café da manhã. Ela me olha e pergunta se estou bem, faço sinal de mais ou menos e pergunto “já acabaram as férias do seu internato?”. Ela com cara indiferente para de olhar para mim e volta a voltar a atenção a televisão de LCD de cinqüenta polegadas zapeando canais na tv a cabo. Ouço me chamarem e como um belo cãozinho adestrado levanto e caminho para a sala do Dr. Luiz Inácio, pensando “corre, pula, deita, finge de morto”. Quando chego na sala do bom Dr., uma sala ampla com cores vivas e um monte de livros caros nas paredes, ele vem e aperta minha mão como quem da esmola a um miserável e gesticula para que eu me sente. E é o que eu faço, esperando o osso. Ele senta e logo levanta dizendo “você não fez nada, seus serviços são uma porcaria. Te mandei atrás da minha filha e você nem me deu UMA noticia. Não te achava nem para saber o que você estava fazendo nestas ultimas semanas. Minha vontade é não pagar nada a você, nem sequer o que combinamos. Realmente lamentável. Vou avisar o Dirceu que você não serve para nada’. Ele colocou a mão numa gaveta e tirou um pacote com os três mil reais que havíamos acertado como preço dos meus préstimos. Gaveta com chave, naturalmente. Peguei o dinheiro e não disse uma única palavra. Levantei e sai pela porta e cruzando a sala disse a meu anjinho loiro “pergunte a seu agente de viagens sobre um destino melhor nas próximas férias”. Recebi um sorriso irônico e voltei ao elevador e aquela musica ambiente.

Passam umas semanas, que fico gentilmente estabelecido na casa da minha namorada que mora com a mãe. Todo dia ouço a velha se queixar de mim, reclama de tudo, que não puxo a descarga quando faço xixi, que deixo a toalha molhada em cima da cama. Que quando ela acorda as dez da manhã não tem mais café preto para ela tomar...enfim, um rosário de apurrinhação. Quando estou bem melhor, já quase sem nenhum curativo no corpo e boa parte dos olhos sem inchaços entro no meu calhambeque e volto ao meu ultimo endereço antes de ficar com Martha. Ou seja aquela garagem imunda que me infligiram as piores coisas que alguém pode sofrer. Já quando entrei na rua notei que era observado pelos vigias deles, mas mesmo assim segui em frente e fui ate a casa. Bati gentilmente na porta e sou atendido por um crioulão que pergunta o que eu quero. Falo que quero falar com o chefe, chefe que devia ter no máximo vinte e cinco anos e estava de chinelos de dedo e camisa de basquete tomando uma latinha de cerveja vendo jogos da copa do mundo. Quando me vê se surpreende. Faço gestos para mostrar que não estou armado e ele me oferece uma cadeira e pergunto “quanto esta o jogo?” e ele me responde “um a zero Suíça, mas a Espanha esta jogando muito daqui a pouco empatam. O que você quer aqui, cara? Esta de palhaçada?” pego uma latinha de cerveja num mini bar logo em frente a televisão e digo “vim dizer o que vocês queriam saber quando da minha ultima visita”. Ele me olha surpreso e atento e digo o nome e endereço do Dr. Luiz Inácio. Ele sorri e aperta minha mão. Agora quem vai virar cãozinho adestrado é o bom doutor e com alguma sorte o negrão da portaria segura esta turma da pesada.

16/06/2010
22:10hrs
Marcelo Riboni.

sábado, 22 de maio de 2010

Cobrança

Olhando pela janela do vigésimo andar vejo as pessoas pequenas lá embaixo e penso “quem são estas criaturas?”. Volto a minha atenção para a mesa na minha frente e pego uma folha de papel cheia de rabiscos incompreensíveis, fixo o olhar numa frase “Quanto mais você raciocina menos você cria. RC.” O que isso deve significar eu não sei dizer, não sou do tipo que cria nada alem de problemas, mas tenho meus momentos de poeta as vezes. Me chamo Zé, sou um cara que resolve problemas para os outros, as vezes e muito raramente resolvo os meus. Mas isso é outra historia para ser contada em uma outra oportunidade. Agora acendo um cigarro e pego o telefone ligando para o numero do meu mais novo patrão, Jorge urubu que me contratou para achar uma pessoa que sumiu com valiosos carros roubados que ele vende. Devo explicar que Jorge Urubu não é do tipo que deixa barato problemas assim e para isso ele tem uma turma de barras pesadas como eu para “resolver” os problemas desta natureza que surgem na vida de um vigarista de alto quilate. Falo com uma secretaria que deve ser ex garota de programa e daquelas bem baratinhas que ele gosta de ajudar a se encontrar na vida. Ela passa a ligação para o meu homem e ele me passa um endereço num bairro do outro lado da cidade que devo ir para averiguar se os tais rapazes não andam por lá com a mercadoria dele. E é o que eu faço, pego um ônibus lotado ate o centro e aproveito para passar no mercado publico e pegar aquele famoso presunto que eles fatiam fininho. Saindo dali pego outro ônibus ate a zona norte e no inverno as janelas do ônibus estão todas fechadas e cai na rua aquela garoa que serve só para molhar o piso e encher o saco. Uma hora depois desço na frente de um mercado que haviam me indicado para descer. Paro, olho em volta e entro no mercado para comprar cigarro e bater um papo com o dono e ver se consigo me achar nesta situação toda. Só tem o dono dentro e ele pergunta o que vai ser e eu digo “um maço de cigarro derby e uma nova skin, meu amigo. Estourando de gelada, por favor”. Sento numa mesinha logo na frente enquanto ele vai passando o pano por cima do balcão e fica me olhando com cara de desconfiado. Levanto o copo como que fazendo um brinde para ele que sorri e bebo de um só gole o copo todo seguido de um cigarro. O dono do mercado vem na minha direção e pergunta “meu chapa, nunca te vi por aqui. É novo no bairro?”. Solto uma baforada do cigarro com cara de quem pensa nos filósofos da grécia antiga e respondo “não meu amigo, estou atrás de uns rapazes. Eles mexeram com a pessoa errada e vão se dar mal.” O dono do mercado da os ombros e me pergunta “como você se chama meu chapa?” dou mais uma baforada daquelas que enchem o pulmão e respondo “me chamo par de onças pintadas. Já ouviu falar de mim?” ele da um sorriso contido e diz “claro, são muito meus amigos. Me chamo Chico, muito prazer” e aperta minha mão com certo entusiasmo. Depois disso Chico se senta no banco em frente ao meu e diz “quem são estes rapazes que você esta atrás?” apago o cigarro num cinzeiro imundo daqueles de metal preso por uma corrente e cheio de baganas “se chamam Pedro e Paulo, dizem que andam por estas bandas. Um é alto e moreno, sempre com roupas caras e o outro é bem branco, branco mesmo. Tanto que parece anêmico.” Ele olha para o cinzeiro termina de apagar o meu cigarro mal apagado e diz “no fim da rua de trás, na casa 245. Uma casa toda mal pintada de azul, é lá que mora a namorada de um deles. Estão sempre por lá.” Levanto tomando o ultimo gole da cerveja e passo ao meu bom amigo Chico as duas notas de cinqüenta. Desço a rua e dobro na esquina procurando a rua de trás a que estava. Nisso sinto que estou sendo observado de uma janela. Finjo que não noto nada e sigo meu caminho, nisso um rapaz de cabelo raspado e muito baixinho me da um encontrão e diz “ô tio, tem um cigarro ai?” faço menção de por a mão no bolso para pegar o cigarro e levo uma chave de braço das boas, que vergonha para mim, com toda minha experiência caio neste velho truque. De repente tudo fica preto e sinto um baque surdo. Quando acordo estou todo amarrado numa cadeira em uma sala com pouca mobília e com uma mordaça na boca. Ouço vozes vindo de outro ambiente da casa seguidos por varias gargalhadas. Passo uns minutos estudando o lugar, calmamente sem nenhuma pressa. Já esta escuro na rua quando alguém entra na sala que estou e me da um tapa na cabeça. Levanto o olhar e vejo o rapaz branco, não imaginava que ele existia alguém tão branco assim. Ele senta em uma cadeira de cozinha na minha frente e mostra a boca sem dois dentes da frente quando diz “meu camarada, você esta todo fudido. Se fudeu totalmente, cara”. Dou um sorriso para mostrar indiferença esperando que ele veja através da mordaça. E ele continua “você vai servir de recado para aquele desgraçado do Jorge Urubu, que ele vai se fuder também. Ninguém mexe com nois” ele deve ser o Paulo, deixo ele falar as maneiras que vão me surrar, bater, arrancar meus dentes, dedos etc com toda calma. Quando ele se empolga no assunto me levanto da cadeira com os pés e dou uma cabeçada na barriga dele que o derruba no chão. Depois dou uma bela cadeirada para quebrar a cabeça dele ao meio, o que me ajuda a esmigalhar a cadeira e me ver livre. Deixo ele deitado desmaiado enquanto me livro das cordas que me prendiam e digo para ninguém “deviam ter amarrado os meus pés, babaca” e antes de sair dou um chute na cabeça do corpo caído. Entro num quarto e pego uma arma calibre 38 carregado e sento no escuro depois de prender o branquelo com aquelas cordas de pendurar roupa que doem para caramba se você tenta se soltar e espero. Passam algumas horas e entram na pela porta da frente um o rapaz alto e moreno acompanhado de uma menina que deve ter seus dezoito anos. Quando acendem a luz, dou um boa noite caloroso mostrando bem claramente a arma o que os deixa como se congelados na posição e digo com suavidade “façam o favor de puxar uma cadeira e sentem-se” quando o fazem dou um muito obrigado e também os amarro junto com o outro desmaiado e todo arrebentado. Puxo um cigarro e pego o telefone e ligo para Jorge não sem antes passar pela secretaria e digo que estou com o pacote dele prontinho em fita de presente. Sento num sofá todo manchado de varias coisas e espero por cerca de 40 minutos ate chegar os capangas de Jorge para levar o presente dele que será uma festa para ele, que tem um que de sádico no sangue. Os capangas perguntam se quero uma carona o que muito agradecido aceito, “para aonde?” perguntam já dentro do carro em movimento e eu respondo “quero fugir ao mistério/para aonde fugirei?/ele é a vida e a morte/ó dor, para aonde me irei?”. E olho as casas e prédios passarem pela janela embaçada do carro.

20:27hrs
22/05/2010
Marcelo Riboni

Lingua.

A poesia fria deitada nua de costas.
Fazendo provocações sobre questões
Morais e sentimentais e falando coisas
Cada vez mais acidas sobre a vida.
Olho de rabo de olho para as letras,
Todas expostas notando as sutilezas
E os significados complexos das vogais
E das consoantes todas dissonantes
Da versão romântica da nossa língua
Enrolada em línguas estrangeiras,
Todas dificultando a compreensão
Do que se passa no coração
Na alma e na cabeça de tudo que queremos
Dizer na realidade cada vez mais distorcida.

Língua mãe, língua madrasta dos iletrados
No verbo que quero conjugar. E dominar
Com todas as regras e todas as dimensões
Que as palavras alcançam, transformando
Elas em sensações e emoções para
Que tudo que se passa na alma do poeta
Tenha sua morada no reduto dos versos.
Em rima e prosa com tulipa, margarida e rosa
Para adocicar os lábios que falarão as palavras
Que nunca mais estarão no mesmo lugar.

09/05/2010
Marcelo Riboni
19:42hrs.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Honra de mãe

“Mãe tem alguem na porta” grita a filha de dentro da sala diminuta, e rapidamente passa uma mulher de trinta e poucos anos para atender. Ela se detem um minuto para rugir para a criança – “vai para teu quarto Shirley, AGORA” e sai para o pátio. Minutos depois entra ela com um acompanhante que fala qualquer coisa sobre a bagunça na sala. Em instantes estão os dois aos beijos ardentes no sofá e o homem diz - “Matilda, pega uma cerveja para mim?” ai Matilda olha emputecida e grita para o homem – “porra Josué vai a merda, não me enche o saco. Busca tu mesmo esta cerveja!!”. Josué a contra gosto se levanta e caminha o curto espaço entre a sala e a cozinha e abre a geladeira e olha para dentro depois olha em volta e fala berra de volta para sala - “PORRA MATILDA TU NÃO TEM PORRA NENHUMA NESTA CASA, OLHA ISSO AQUI. A GELADEIRA ESTA PELADA.”. Matilda entra e fala – “Josué as coisas andam difíceis. Qual é, cara? Vai querer me explorar agora. Te dou um belo pé na bunda malandro.”. Os dois sentam na mesa da cozinha espremida entre a pia e a porta que da para sala e trocam juras de amor por algum tempo e então segue um silencio por uns minutos, a pobreza do lugar não ajudava a inspirar mais juras de amor, e o silencio voltou a reinar no ambiente. Josué faz uma cara seria, olha novamente a penúria do lugar e olha no rosto da mulher e diz – “Matilda, tu merece algo muito melhor que esta merda de casebre. Merece algo melhor para sua filha. Eu mereço um vida melhor que a de mecânico fodido, nós dois trabalhamos para caralho e o que conseguimos? Mais dor de cabeça, mais trabalho e mais incomodo, não é mesmo?” – Matilda olha para o rosto de Josué que parece estar a milhas de distancia daquele casebre na zona norte da cidade e ele continua - “eu conheço uns caras aí Matilda, caras da pesada, que estão querendo fazer umas coisas para ganhar dinheiro, muito dinheiro. Mas eles estão juntando a turma ainda, podemos entrar neste esquema e ganhar uma boa grana e viver um pouco mais decentemente, Matilda”. Pela cara de seriedade de Josué, Matilda ignorou o fato de ela detestar que ele repita vinte vezes o nome dela a cada frase, o que geralmente faz com que tenham as discussões mais idiotas que um casal pode ter e pergunta ao homem – “ Jô, sobre o que tu esta falando. Eu trabalho como faxineira e ganho pouco sim, não tenho estudo, mas ralo pelo meu dinheiro honestamente. Entendo que tu queira uma vida melhor, todos querem isso, ate os que tem muito e não fazem nada, mas fazer coisas fora da lei...não sei jô”. O homem se levanta da mesa e da um beijo na testa da mulher e diz - “deixa comigo, não vai ser nada demais. Vamos nos dar bem, tu vai ver”. Ele levanta e sai pela porta da sala para a rua, acende um cigarro e caminha em direção ao ponto de ônibus, já que o carro dele estava com a lona de freio gasta e ele prefere não arriscar. O ônibus chega e ele apaga o cigarro pela metade para fumar o resto na descida e vai maquinando os problemas da vida.


Uma semana depois Josué volta a casa de Matilda, bate na porta e a criança atende a porta com uma boneca de trapos na mão e diz – “eu te conheço, tu quer ver a minha mãe. Ela não esta, mas já volta”. O homem sorri para criança e pergunta – “posso entrar então?”; a criança faz que sim com a cabeça e ele entra e senta no sofá surrado com um lençol por cima para disfarçar o estado lastimável. A criança senta no chão da sala com a boneca e começa a brincar, como toda criança devia pensa Josué mas a vida é ruim com que mais merece que ela seja boa. Perdido nas idéias Josué nem nota a criança encarando ele quando percebe pergunta – “o que foi menina? Algo errado com minha cara?” e da um sorriso sincero para menina e ela lhe diz “brinca comigo, tio”. Ele senta no chão ao lado da menina e pega uma das bonecas que estavam atiradas num canto e tenta disfarçar as idéias que estão na sua cabeça. A menina entusiasmada nem nota que o homem ali esta longe, longe demais daquela pequena sala. Passam uns trinta minutos e chega Matilda e já na hora grita – “Shirley, já para o seu quarto”. A menina olha com desdém para a mãe e pega a sua boneca preferida, a de trapos, e ruma solenemente para seu cubículo. Matilda da um beijo em Josué e fala – “olha fui buscar cerveja para ti jô”. Ele Poe as latinhas na geladeira e comenta – “Matilda, isso não interessa agora Matilda. Eu andei falando com aqueles caras que te disse. Disse que nós estávamos com eles nos planos. E eles prometeram uma bela fatia do bolo, Matilda”. A mulher olha para o homem um pouco assustada com isso e também um pouco atrapalhada e diz “ Jô tu nem me disse o que eles esta tramando. Calma meu amor, vamos falar”. Josué pega a mão de Matilda e leva ela para a cozinha e começa - “Matilda, tu é uma boa mãe. Estou mentido?”. A mulher faz que sim com a cabeça e ele prossegue – “Matilda, sua filha, a pequena Shirley,merece uma vida melhor não é? Estes caras vão arrumar tudo para nós”. Matilda pega na mão do homem e beija a palma da mão cheia de calombos e com as unhas sujas e ele segue – “Matilda...” – a mulher pensa em dizer que ele repete o nome dela a cada frase, mas se cala – “sabe aquele seu patrão aqui perto?” – Matilda fecha a cara e diz – “sei, o Seu Gomes. O que tem ele?”. “então, Matilda, os camaradas ouviram dizer que este cara, que tem aquela loja de 1.99$ aqui no bairro, ganhou este mês uma nota preta em cigarros do Paraguai em carga, que ele vende como cigarros legítimos, aquele vigarista, e embolsa o lucro todo. Eles querem que tu de um jeito de tirar ele da loja por umas horas para que eles entrem lá e peguem aquele banana que trabalha com ele sozinho e tomem conta do estoque para levar os cigarros. Eu sabia que tu trabalhava na casa dele e dei a dica. Só estava esperando para te falar isso, na ultima vez que falamos já sabia disso, mas precisava pensar melhor. Então o que tu acha? Tu é capaz de dar um jeito nisso? Pensa na sua filha Matilda, pensa só nela”. A mulher levanta da cadeira, anda em circulos na pequena cozinha, pega um copo de água e fala para o homem – “eu preciso pensar nisso Josué”. O homem bate na mesa e diz – “não temos mais tempo, ele já esta com a carga de cigarros. Eles precisam fazer esta mão no Maximo depois de amanha, Matilda. Tem que se decidir agora, não temos mais tempo. Entende. Tu é mãe, acha que sua filha merece brincar com aquelas bonecas todas detonadas, Matilda. Não Matilda, ela não merece, uma criança bonita, esperta, merece muito mais que estas merdas, Matilda”. Relutante Matilda olha em volta de seu pobre casebre e diz – “ok, Josué, ok!”


No dia marcado os homens contatam Matilda no celular e perguntam como vai ser, ela diz com os nervos a flor da pele que vai dar um jeito e combinam tudo para acontecer logo após o almoço. Neste dia Matilda vai ate a casa do Seu Gomes para fazer a faxina, chega cedinho, um pouco antes das oito que é seu habito, e ele logo estranha – “Suely, o que tu esta fazendo aqui tão cedo?”. A mulher engole seco, mais seco que de costume o fato do Seu Gomes sempre errar o nome dela, e nunca fez questão de corrigir ele, um pouco por medo, um pouco por diversão, mas hoje ela não esta no seu normal. E fala – “Seu Gomes, estou com minha filha doente hoje e preciso sair mais cedo, se o senhor não se importa. Pode ser?”. O Seu Gomes olha enfurecido e diz – “Suelen, eu te pago para trabalhar para mim das oito as cinco, tu não aceita descontos no fim do mês no seu salário. Então por que eu deveria aceitar que tu trabalhe a menos num dia como hoje? Na na ni na não” diz ele. E sai para a loja que fica a algumas quadras da casa onde ele mora. Matilda fica a manha inteira maquinando como vai segurar o homem em casa ao meio dia, ainda mais um tirano destes, que não aceita nem que ela saia mais cedo e nem acerta o nome dela mesmo ela trabalhando para ele a mais de um ano, ela passa as horas da manhã arrumando a casa e da de cara com a solução para seu dilema. Acha uma caixa de remédios para dormir e poe no bolso da saia e vai fazendo seu trabalho. Ao meio dia Seu Gomes chega para o almoço e ainda comenta que o cheiro da comida esta uma delicia ao que ela retorna dizendo – “Seu Gomes fiz seu prato favorito. Bife acebolado com batatas fritas, a minha moda” diz ela com um que de maldade na voz. Seu Gomes senta na mesa e devora o bife com todas as batatas que vê na frente. Toma um copo de água gelada e vai ouvir radio na sala, senta um pouco no sofá e cai em sono profundo rapidamente. Olhando da cozinha ela vê o velho dormindo e liga para os homens e avisa que a barra esta limpa. Matilda ansiosa passa as horas em um pé na sala de olho no velho dormindo e outro ao lado do celular esperando a resposta dos homens. As três da tarde o velho Gomes acorda sobressaltado e pergunta a Matilda o que tinha havido ao que ela diz “o senhor caiu no sono no sofá Seu Gomes e dormiu ate agora”, ele vai rapidamente tomar um copo de água na cozinha e ruma para sua lojinha ali perto. Matilda termina o trabalho na casa do homem e volta para casa ansiosa com tudo o que houve naquele dia. Chegando em casa vê a filha Shirley brincando no pátio da frente e fica mais tranqüila. Abre o portão e da um beijo na testa da filha, e quando entra em casa toma um choque. Estão Josué e mais três homens grandes e fortes na cozinha tomando café, devem ser os amigos que Josué tinha falado. Ela entra Josué tenta falar mas se detem e ela não percebe nada, Matilda abre a geladeira e pega um copo de água nervosa quando serve a água um dos homens fala – “tudo bem Matilda? Pode beber a água, depois vamos para o distrito. Não vai tomar água gelada por um bom tempo. E tu ainda por cima é mãe de uma criança daquelas ali fora, devia ter vergonha na cara.” E eles poe as algemas nela e vão para a delegacia.


28/04/2010
19:47hrs
Marcelo Riboni

sábado, 3 de abril de 2010

Noite Estranha

Abrindo os olhos, saindo da nevoa da noite passada sinto as dores de tudo o que houve no dia anterior. O relógio se movimenta lentamente no seu ritmo, seguindo seu caminho do dia a dia. Corro para o banheiro e vomito ainda no chão, errando o vaso, sujando todo meu pequeno toalete. Vomito a alma e tudo mais que tenho dentro nesta hora, sento numa parte do piso que não foi sujo e respiro com alguma dificuldade. Passo a mão na boca para me limpar e sinto que estão faltando dentes. Me levanto e olho o espelho, vejo meu rosto desfigurado, todo marcado por pancadas e outras maldades. Volto para diminuta sala e deito no sofá que faz as vezes de cama. Aqui não tem televisão, nem radio, nem cama, nem nada. Só uma cozinha com uma panela suja de miojo, um par de talheres e um copo daqueles que vem como pote de requeijão. O que tem são muitas garrafas de vodka ordinária vazias pelo chão e muitas baganas de cigarro espalhadas por todo a apartamento. Pego uma camisa velha e tento limpar minimamente o banheiro quando tocam a campanhia. Jogo a camisa imunda num canto e vou ate a porta, olho pelo olho mágico por uns instantes e vejo um sujeito alto, bem arrumando fumando calmamente um cigarro que parece um John Players Special, coisa que não vejo há muito tempo. Sera que ainda fabricam isso, me pergunto. Abro um pouco a porta e pergunto - pois não?. O sujeito me olha com cara de superior, com um sorriso afetado, ajeitando os cabelos negros e diz - Juca, tudo bem? Posso entrar um instante?. Olho meio sem saber o que dizer e penso por uns instantes, o sujeito nota minha atrapalhação e fala com desdém - não lembra de mim, não é mesmo? - e vai empurrando a porta e entrando e continua – sua festa de ontem foi daquelas, meu amigo. De onde surgiram aquelas pessoas que estavam aqui, só Deus sabe, mas elas eram legais da forma delas. – em silencio fico vendo o rapaz passar em revista o que se pode ver da sala, quando ele me olha de soslaio e pergunta – lembra que te dei uma bolsa, com coisas importantes dentro, pois então estou aqui para pegar ela. – congelo no meu lugar, pensando o que eu poderia ter feito ontem que não lembro de nada, ainda mais com uma bolsa, segundo percebo com coisas importantes dentro. Passam alguns momentos de silencio e pergunto – como tu te chama mesmo, meu amigo? – ele sorri e diz – JH, isso vai bastar para sua memória se avivar. – viro a cabeça e finjo procurar por algo, olho em volta e digo – sinto muito, camarada, não sei aonde esta sua bolsa. – ele da uma gargalhada que quase beira a histeria – tu sabe que não é assim, sei que sua bebedeira estava demais ontem. Mas mesmo assim preciso pegar aquela bolsa. Se não estiver com ela daqui a três horas vai haver sofrimento, capisce gringo? – dou um sorriso e respondo – não sou gringo meu irmão – ele vai em direção a porta e diz – gringo ou não, se não estiver com a bolsa as duas da tarde...bom...- e faz aquele gesto de degola e sai batendo a porta.

Termino de limpar o banheiro minimamente com a camisa que usava de pijama quando toca meu celular e deixo tocar, passo um tempo pensando naquela visita sinistra, maquinando sobre o que houve ontem que não lembro de nada, só lembro de ter dado uma festinha para alguns amigos que trouxeram pouca bebida para variar e que tive que descer ate a loja de conveniências para comprar mais e daí quando voltei tinham mais garotas, mais caras e mais MUITO mais bebida. Sentei para conversar com uma cara com uma tatuagem de uma moça no braço quando a bebida bateu de verdade, não lembro agora se a garota da tatuagem era a mãe, a irmã, a namorada ou quem quer que seja só sei que agora tem esta historia de bolsa que nunca vi na minha frente. Chego na sala e acho meu maço de cigarros amassado num canto escondido para não ser roubado e acendo um bem tranqüilo quando pego o celular e olho quem me ligou. Numero desconhecido, ligo de volta e recebo a pergunta – quem fala? – e de imediato respondo – quem fala ai, ligaram para mim deste numero. – alguns segundos de silencio e recebo a resposta – ah é tu gringo, sou eu o Carequinha, como tu esta agora? Ontem foi de arromba, não é mesmo? Grande noite a de ontem...hahaha...- sem saber o que dizer concordo timidamente e em seguida pergunto – tu viu alguma bolsa, sacola ou mala comigo chefe? – espírito preparado para o pior enquanto aguardo a resposta que vem depois de um suspiro – gringo, esquece aquilo. Tu não vai querer saber de sacola nenhuma mais, já pegou sua parte. Agora deixa a bronca com a gente. Como disse, deixa isso para lá, OK? – penso alguns instantes se devo ou não dizer e decido que sim – veio aqui um JH perguntar por ela, sabe, e não sei quem é ele. Estou preocupado um pouco com isso tudo. Me entende? – o sujeito ri alto, alto demais ate e fala serio-brincando – gringo, tu já levou sua parte do negocio. Como tu esta de pé agora é um mistério quase te apagaram ontem mas tu estava a milhão. Bêbado para caralho e não parava de falar. Só queria vender aquela porra de bolsa. Agora quer ela de volta, tu deve estar doido gringo. A gente se fala, ate mais ver. – e desliga o telefone na minha cara, ligo de volta e cai na caixa postal. So resta esperar o pior. E torcer que o pior não seja para mim, mas tenho a impressão que será. Olho para o cigarro que já apagou na minha mão e jogo ele num canto com outras baganas. Me arrumo um pouco e bebo uma café instantâneo e bato na casa da vizinha, minha amiga Jane, para tentar me lembrar do que houve a partir da hora que perdi a noção. E é o que eu faço. Toco a campanhia e ela atende de camisetão e chinelos de bichinho, daqueles de pelúcia limpando os olhos enquanto abre a porta e digo – tudo bem Jane, estou com um probleminha. Se tu puder me ajudar será muito legal. – ela gesticula para eu entrar e senta num sofá todo fudido como os apartamentos deste prédio, quem pode se muda, quem não pode fica no meio desta imundice. Ela se atira no sofá e acendo um cigarro e me oferece, coisa que recuso, odeio a marca que ela fuma e diz – bah Juca, ontem tu pirou o cabeção. Ate disse que ia me comer, me assustei um pouco. – sento no chão e peço desculpas e ela continua – o que houve com sua cara, parece que tu tomou uma surra daquelas. Deixa eu ver sua cara... – ela se aproxima para ver melhor e eu digo – parece que peguei uma bolsa, e acho que vendi, ou algo assim...- suspiro – mas agora estou precisando dela. E não sei o que fazer, me ajuda Jane. – ela volta ao sofá e diz – no que eu puder, querido. –


Olho o relógio, quinze para as duas, faltam alguns minutos ate o tal JH chegar segundo ele disse. Espero pacientemente fumando um cigarro e brincando com o Maximo de atenção que posso num jogo daqueles de celular, quando toca a capanhia pela segunda vez hoje e tremo na base, me levanto rápido e abro a porta. O tal JH chega com mais dois caras grandes e quando digo grandes são grandes mesmo que estão colados a cada ombro de JH. Ele entra sorrindo um sorriso artificial e pergunta – cadê a bolsa, gringo? Vai dizer que não tem ela? – abro os braços em desconsolo e os grandões começam a fazer cara de poucos amigos para mim, que estou só neste apartamento horrível e sem nada dentro.o JH diz – quando eu der a ordem vocês começam a trabalhar, não antes. OK, rapazes? – ele vem e se senta no sofá ao meu lado. Passa as mãos no cabelo e como aqueles italianos dos filmes de máfia antigos, ajeita a roupa que era para ser um terno, mas de tão surrado chamar de terno seria um considerável elogio a roupa. JH da um sorriso e começa a falar, devagar e eu diria quase com carinho – gringo, eu vim parar no seu apartamento por que um amigo me disse que tinha uma festa com bebida a vontade e mulheres bonitas, não sou de negar nem bebida nem garotas, e então vim para cá com um pouco de pressa. Estava resolvendo uns negócios e me pegaram meio de surpresa. Acabei me perdendo nas conversas e quando vi tu estava saindo porta afora com minha sacola. Ou seja ti me ROUBOU, gringo, entendeu ROU-BOU. E me diz o que merecem ladroenzinhos como tu, seu chinelão? Merecem apanhar,gringo, mas isso já te fizeram, tu esta com a cara mais amassada que opala de negao e o que tinha dentro daquela bolsa vale mais que sua vida inútil, tu tem cara de quem não consegue emprego nem de gari. Tudo o que tu pode me dar em troca daquela bolsa é sua vida, e seria um preço que para mim é indiferente, pois tu não vale nada nem para sua mãe aposto. Então como resolvemos isso, gringo? Acho que vou deixar meus amigos aqui tomarem conta de ti ate tu virar caldo de cana. O que vocês acham amigos? – e se vira para os rapazes “minúsculos” atrás dele que apenas sorriem e um diz logo depois – esse mirradinho não dura dez minutos com a gente dando pressão nele, chefe – e os dois gargalham. JH faz sinal de silencio e eles imediatamente fecham a matraca. JH olha em torno de si e pragueja – porra gringo, uma pena. Sua festa estava ótima. Odeio que as coisas acabem assim, podíamos dar outras festas como aquela juntos. Mas para ti chegou o fim da linha...rapazes – diz ele fazendo sinal para os grandões avançarem quando toca a campanhia e eles congelam e voltam atrás que nem fita de vídeo cassete. Me levanto rapidamente e vou em, direção a porta lentamente, bem devagar mesmo e quando abro os três levam um susto, parece aqueles momentos maravilhosos que valem uma foto. Aparece Jane a o Carequinha com a merda da bolsa cheia de cocaína nas mãos. Os olhos brilham, todos prendem a respiração e eu tenho vontade de chorar. JH pega a bolsa e sai dizendo – gringo, tu te safou na batida do gongo. – ficamos Jane, Carequinha e eu na sala. Quando pergunto a ela – Tu achou ele, como conseguiu pegar a bolsa? – ela sorri, passa a mão no meu rosto inchado e sem alguns dentes na boca e diz – charme de mulher Juca. Tu não entende mesmo. – sorrio para ela quando ela sai batendo a porta. Cada um tem a mulher que precisa na vida, sento num canto da sala e acendo um cigarro e sorrio maliciosamente deixando os pensamentos voarem livres como passarinhos.

31/03/2010
23:03hrs
Marcelo Riboni

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Farsa do Absurdo.

Musica alta, mente alertando
Uma sucessão de insucessos
Fazendo cada momento
Trazer um sentimento
De gosto amargo na boca;
De cinzas do passado
Que foi um suicídio por segundo
Seguindo todos rituais de auto-destruição.
Coração, corpo e pensamento
Levados a beira do abismo.

Julgado e condenado;
Rindo mas sofrendo;
Chorando e vertendo mais e mais lagrimas
Para que o teatro dos mortos
Continue pateticamente
Levando a cabo sua encenação
Do teatro do absurdo.
O tornado ridículo toma conta do palco
E se transforma no centro da farsa tragicômica
Que começa quando chega o ponto final.

28/01/2010
20:51hrs
Marcelo Riboni

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vingança tardia

Passo em frente a um mercado, volto e
Entro e compro um maço de cigarros.
Saindo olho os mendigos que circulam
Em torno do local e ficam bebendo cerveja.
Dou um o troco a uma criança que fica por
Ali. Sigo meu caminho por que tenho coisas a fazer.

Chego numa casa e bato na porta, um senhor
Vem e abre para eu entrar. Ele sabe quem eu sou
E o que vim fazer aqui. Batemos um papo por um
Tempo. Então saco meu .45 e descarrego no peito
Do velho. Que cai sentado na sua poltrona de ver T.V.
Calmamente tomo um copo de água e saio novamente.

Chego no meu barraco e espero. Deixo o celular do
Meu lado. Esperando a chamada do meu empregador.
Fico de cuecas bebendo uma vodka com suco de laranja,
Olhando para dentro da minha reprodução de “garçon a la pipe”
E então toca o telefone e a voz fala - aliviou meu problema?
E eu respondo – ‘se quiseres viver, prepara-te para morrer’
Disse Freud. E voltei ao meu belo quadro.

Continuação de “poema para uma morta”

Marcelo Riboni
05/09/2009

Poema para uma morta

Moça louca corre pelo corredor,
Ela esta sem camiseta e de calcinha rosa.
Desespero estampado na face sem pudor
Gritando que roubaram sua alma

Abro os olhos e vejo as horas,
Quatro e quarenta da manhã, acendo um cigarro
Fumo e volto a dormir.
Ignoro este terrível pesadelo.

A moça volta, esta com um roupão preto
E fuma um cigarro, com uma cara mais calma,
Olhando fixamente para meu .45
Do lado de um jornal que anuncia o fim do mundo.

Um barulho me desperta mas fico com olhos semi-serrados.
Vejo um vulto se mexendo pelo quarto
Acompanho ele ate entrar no banheiro.
Depois ouço uma voz feminina cantar “superbacana”.

Abro os olhos enquanto pego a arma,
Ponho no meio das pernas e solto a trava.
Garrafas de bebida vazia decoram este apartamento horrível.
Agora ela liga o chuveiro e entra no banho,
Sento encostado contra a parede e bebo o ultimo gole do Scotch
Junto com o ultimo cigarro do maço.
Fico olhando para porta esperando ela sair,
Ela sai do banheiro enrolada numa toalha vermelha.

Dou um disparo na sua barriga, ela vai para trás com o impacto,
O vermelho do sangue se confunde com o vermelho da toalha.
Dou outro tiro no tórax e ela cai de vez no chão.
Ponho a roupa devagar, olhando o corpo caído,
Desço as escadas e vejo o nascer do sol por entre os prédios.
Entro num bar e peço um maço de cigarros e uma garrafa de whisky,
Acendo mais um cigarro e caminho pela rua sem direção.
Toca o celular e o marido pergunta “feito?”; respondo que sim.

20:38
12/07/2008

Marcelo Riboni

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Noites Vazias

Eu escrevo o silencio da alma.
As palavras nunca ditas
Que destroem as noites e
Abrem o chão embaixo
Dos meus pés, então surge o buraco
Que consome minha vida
Deixando vazio os espaços.

As coisas são irrelevantes,
Nada mais tem sentido.
O sentimento morreu
E no seu lugar nada nasceu.
Tornando tudo fugaz, imediato e automático;
Em ações condicionadas.
Os sorrisos tão falsos quanto
A simpatia que disfarça o ódio.

O mundo segue
E todo dia surge o sol
Tudo continua igual
Sempre seguindo o mesmo ritual

Pessoas acordam e tem a mente dormindo
Pessoas viram “não humanos”
E quando tudo terminar
Seremos todos insanos.

18/01/2010
18:52hrs

sábado, 2 de janeiro de 2010

Fragmentos.

Afogado num mar de pensamentos imprecisos;
Soterrado em memórias fora de ordem;
Repartindo uma cerveja com pior lado
Da minha imaginação obcecada.

Dividido entre a dor e o prazer.
Tentando comunicação com o lado
Escuro da noite, onde não há nada a não ser
Cacos de uma vida passada, esquecida e enterrada.
Contando as horas para o sol nascer e me absolver
Da escuridão de uma alma desalmada que
Não poupa meus pecados e não alivia
Com gracejos as minhas conquistas.

Amando a dor e sentindo prazer em sofrer.
A cada virgula das frases surgem ressentimentos
Que não permitem a paz interior e também não dão chance
A felicidade de ver um fracasso como um enorme sucesso.
E sim uma sucessão de lamentos e xingamentos,
Gritos e absurdos tomando conta do sistema
De ordem mental que faz a realidade cruel
Tornar impossível habitar esta pele decomposta.

Sentindo inútil o sentimento de auto comiseração,
Tornando impossível a convivência interna.
A loucura instala-se no cotidiano fazendo todo dia
O inferno sair de seu buraco só para me ver.


Marcelo Riboni
02/01/2010
16:49hrs.