segunda-feira, 27 de outubro de 2008

o Haiti é quase aqui


Carlos trabalhou durante um ano inteiro na companhia de seguros do seu tio, mas só pensava numa coisa durante todo o tempo, na sua viagem para o Haiti. Falava constantemente disso para os colegas de trabalho, chegando a ser ignorado por certos amigos, que não agüentavam mais ouvir disso. Era para Carlos um sonho, aquela maravilhosa ilha caribenha, e sua cultura incrível. Avisavam Carlos sobre os perigos de ir para lá, a constante briga política, os seqüestros de estrangeiros e coisas do gênero mas ele não dava nenhuma bola para isso. Morava em porto alegre, cidade sem praia, só um lago que teimam em chamar de rio, concreto por todos os lados, asfalto, poluição, ônibus lotado, gente aos montes. Ele queria ver uma praia daquelas de filmes, estilo lagoa azul, com água transparente que tu pode ver os pés no fundo do mar, nadar, tomar sol e beber aqueles coquetéis com a sombrinha no copo. Quinze dias tomando sol, sem saber de mais nada. E ate planejou as férias para o inverno, tendo que trabalhar durante todo verão no calor acachapante de porto alegre. Nos dias que antecederam a viagem não se via ele falar de outra coisa alem de Haiti, Haiti, Haiti. Carlos era solteiro, jovem, bem apessoado, ate que era bom de papo, mas cansava as vezes. Então lá se foi ele para a tão sonhada ilha caribenha. Passaram os quinze dias e ele volta, todos perguntam como tinha sido realizar aquele sonho que ele vinha torrando todos a respeito nos últimos meses, mas ele é evasivo desconversa sobre a viagem. Todos estranham, ate seu tio dono da empresa que Carlos trabalhava como seu assessor. Quando convidavam Carlos para esticar para um happy hour ele dizia que não dava, tinha trabalho esperando por ele. Argumentavam e ele insistia que não dava, sem chance. Começaram a desconfiar que havia alguma coisa com ele. Um dia, Eugenio saiu junto com Carlos e o acompanhou no ônibus, foram conversando. O amigo pergunta a Carlos o que estava acontecendo com ele que nunca tinha tempo para nada mais era só de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Carlos então conta o mal que lhe afligia.
- Eugenio, vou te falar o que esta acontecendo. Mas ó bico fechado, não espalha para mais ninguém, viu? Senão...não sei o que pode acontecer.
- Cara, tu ficou branco de repente, o que esta havendo. Tu não matou ninguém, né?
- Matei sim, matei e bem matado!!!
- Bah cara, calma. Como assim matou? Me explica isso direto.
- Na viagem ao Haiti conheci uma neguinha, linda. Linda de morrer. Me apaixonei e casei com ela. E a trouxe para cá. Ela fala um pouco de português, mas misturado com francês e inglês. Mas ela é uma fera, braba como o diabo. E outra é macumbeira. Mexe com este lance de voodoo, manja? Quem eu matei foi meu sossego, não posso fazer mais nada senão tenho que prestar contas a ela. Se chego cinco minutos atrasado ela monta num porco. Quase me bate e jura que se eu trair ela faz um boneco voodoo daqueles e me enche os olhos de agulhinhas. Para não poder olhar outra mulher na vida!
- Bah, cara. Só lamento. Mulher braba é foda. Ó meu ponto, desço aqui, e fica tranqüilo que não falo nada para ninguem. Abraços.
O tempo passou e Carlos só vivia em função do raio da mulher e trabalho. Casa, trabalho, trabalho,casa. Ele ficou um cara serio, com aparência de cansado sempre, nunca estava de bom humor. Chegou em casa um dia e a mulher dele estava de péssimo humor, mais que o normal. Marie Claude, se chamava a moça, Carlos não exagerou a respeito da beleza da moça, uma negra linda, daquelas de desfilar como destaque de carro de escola de samba do rio de janeiro. E quando ele bateu a porta atrás de si ela já veio com raiva ao seu encontro não deu tempo nem de tirar o paletó e muito menos a gravata.
- o que tu andarr fazerrr? Estarrr onde, crapule?
- Calma, Marie, o ônibus atrasou!! Desculpe.
- Pardon, nada. Vou fazerrr uma coisa que tu non vai aimer.
- Já pedi desculpe. Posso jantar?
E Carlos jantou e foi ver televisão na sala, mas a Marie ficou na cozinha sozinha. Carlos grudou o olho na televisão e ficou lá ate meia noite. Acabou dormindo sentado na poltrona da sala, ali mesmo. Marie, que estava uma fera ficou ate tarde trancada na cozinha fazendo alguma coisas. A noite passou, quando o sol raiou na janela Carlos acordou. Abriu os olhos, se espreguiçou. Quando se deu conta, não entendeu direito o que estava havendo. Parecia estar numa gaiola de passarinho. E estava mesmo! Começou a gritar, mas tinha neste momento não mais que 30 centimetros. Ficou gritando a plenos pulmões. Olhou o relógio da parede eram recém sete da manhã. Ate que se sentou num canto da sua gaiola e chorou, chorou e chorou. Tinha um pote com água, estilo o de passarinhos mesmo. Bebeu um pouco de água e chorou mais um pouco. Marie Claude acordou por volta de onze da manhã e nem olhou para a gaiola no meio da sala. Carlos gritou feito doido ao ver a negra linda passar mas ela nem deu bola. Tomou café, depois um banho, pegou o jornal na porta e leu o horóscopo e só então foi ate a gaiolinha que Carlos estava. Chegou perto e disse se esforçando no seu melhor português:
- o que estar havendo contigo, my little?
- Como assim, sua doida? O que tu fez comigo?
- Eu avisar, tu me magoa eu fazer coisas contigo.
- Mas o que foi que eu fiz, sua maluca?
- Eu saber que tu fazer coisas, im not stupid, you know?
- Puta merda, sua maluca...eu vou..
- Agorra ficar bonitinha ai, que eu vai sair...
- Mas...
E Maria Claude foi para o quarto, pôs um vestido branco penteou os cabelos e saiu porta afora, deixando o coitado do Carlos miniatura gritando feito doido, enlouquecido dentro da gaiola. Pelo menos ela fez o favor de ligar a televisão para ele passar o tempo. Ela volta três e pouco da tarde. Ele esta mais calmo, dentro do limite do possível, ela chega perto e coloca um pedaço de pão e um dedal de cerveja para ele. Como se fosse a coisa mais natural do mundo ter uma pessoa de trinta centímetros no meio da sala dentro de uma gaiola. Ligam do trabalho atrás de Carlos, mas a Marie forçando um português diz que ele saiu cedo e não sabe nada dele. Passa uma semana assim, a vida parece quase normal para ambos, ate que um dia Marie saiu a tarde, tipo pela uma como fazia quase todos dias, mas desta vez não volta sozinha. Volta com um homem grande, forte, muito musculoso, de cabelos bem pretos e de pele bronzeada. Carlos protesta da gaiola, mas Marie põe uma toalha por cima da sua residência e acompanha o moço para o quarto. Ela liga o radio bem alto mas Carlos sabe o que esta acontecendo lá dentro. E cada dia ela volta com um homem diferente por um mês. No final deste período Carlos já totalmente apático, sem força nem para protestar mais sobre nada pede para Marie um único favor. Mata-lo, ele não agüenta mais esta humilhação, não tolera mais a vida. Só quer ter uma morte tranqüila, de preferência dormindo. Marie da um sorriso, põe o vestido branco, que ressalta os seus seios lindas e os quadris de moça de ótimas proporções e volta desta vez bem tarde, de madrugada já. Carlos dormia na sua gaiola. Magro, exausto, totalmente cansado de tudo. Na manhã seguinte ele acorda, sente uma coisa estranha, que não sentia a muito tempo, um tempo infinito de agonia. Sentia um travesseiro. Abre os olhos, devagar e percebe que esta na cama. Levanta rápido, olha no espelho e esta de volta ao normal. Grita, pula, salta por toda casa sentindo um alivio, uma dignidade de volta, sentindo-se gente. Corre pela casa toda e acha um bilhete na porta da geladeira que dizia o seguinte:
“my little Carl, agora acabou tudo. Eu perdoar tu. Fiz muito mal contigo no ultimo mês, mas agorra passar toda raiva. Eu achar homem mais melhor que tu. Levei tudo para casa dele noite passada. Tu ser homem livre agora. Amor, Marie Claude.”
E tinha um beijo de batom no fim da carta. Carlos fica ainda mais feliz, grita, salta. Põe uma roupa e vai para o bar mais próximo e pede todas cervejas, vodkas, whiskys que tem no bar. Volta ao trabalho dizendo que tinha estado com pneumonia no ultimo mês e por isso não tinha aparecido. Desculparam ele, mas sera devidamente descontado do ordenado e férias já eram. Para Carlos férias era sinônimo de mau agouro. Queria trabalhar 24, 36, 48 horas por dia 365 dias por ano ate esquecer esta provação que passou. Depois de um tempo indo para um happy hour como fazia antes das férias malditas no Haiti ele cruza com Marie Claude. Ela não vê ele mas ele pede licença aos colegas e se desprende do grupo e segue de longe sua ex-namorada. Anda atrás dela por umas três quadras e vê ela parar na frente de um prédio chique que dizia no letreiro CENTRO DE UMBAMDA PAI TOMÁS. Uma criança esta distribuindo uns panfletos e ele pega um, que diz:
“se marido te trai? Seu sócio esta te roubando? Tratamos e resolvemos tudo de modo seguro. 100% garantido.”
Carlos da uma risada mas ao mesmo tempo sente um frio na espinha, refaz o caminho de volta ao bar que estão os amigos e conhece uma crioula linda, leva ela para sua casa e torçe para que não seja metida com voodoo.

27/10/08
20:21hrs

domingo, 26 de outubro de 2008

que fim levou elisabeth shue?


12/08/1997 – local : festa de aniversario de Soares

Lucio bate no interfone, aguarda o sinal para abrirem o portão do apartamento do seu amigo, amigo de um amigo na verdade, soares. O elevador demora um pouco a chegar e Lucio fica cantarolando “singing in the rain” ate o elevador chegar. Quando abre a porta tem uma moça dentro do elevador com varias caixas na mão e Lucio entra com seu pacotão que envolvia seu presente. Os dois se olham e fica aquele clima de dividir um espaço mínimo com uma pessoa totalmente estranha a você. Lucio constrangido começa a assobiar a melodia e a moça da um leve sorriso. Quando a porta abre novamente os dois saltam no mesmo andar, Lucio vai para direita e a moça para esquerda. Ele bate no 782, demoram muito a atender e não parece estar havendo uma festa de aniversario naquele apartamento só há silencio dentro. Quando na quinta vez que toca a campainha aparece na porta um sujeito por volta de 50 anos, careca, de pijamas e com um aspecto cansado e Lucio pergunta por soares. O sujeito diz que é o numero 712 no outro lado co corredor, Lucio agradece a vai para a porta certa. Toca a campainha e de dentro se ouve conversas, musica alta e risadas. Soares abre a porta e cumprimenta Lucio, que mostra o pacotão que trouxe, Soares pega e leva para sala aonde estão uns cinco ou seis amigos. Todos cumprimentados e Lucio vai para junto do amigo em comum dos dois, Marcio. Soares abre o pacote e fica tão feliz que da um urro: CARALHO, UM VIDEO CASSETE NOVO!; soares abraça efusivamente o seu mais novo melhor amigo. Soares agradece muito por isso, Lucio tinha perguntado a Marcio o que o amigo gostava “filmes, musica, artes?” Marcio disse que soares era vidrado em filmes, ate demais para ele. Ficava sempre que tinha um tempo livre na sala de cinema. Achou que Lucio daria uma fita de VHS, um pôster de algum filme. Ele surpreendeu a todos em dar um vídeo cassete. Foi a sensação da festa, quando alguém lhe alcança um copo de cerveja entra na sala Soninha com pratos de salgadinho, dizendo: gente, vamos com calma agora. Não vou sair de novo para buscar mais croquetes. Lucio vê a moça que subiu no elevador com ele, quando ela vem e se senta no braço da cadeira que soares esta sentado depois de por na mesa de centro um pratinho com croquetes, coxas de galinha e empadinhas. Começam a falar de filmes, o filme que soares estava fascinado era “o santo”, com Val Kilmer e Elisabeth Shue. Falou e falou que era um filme adaptado de uma serie de televisão, que a serie era com o Roger Moore, que era com o Roger Moore antes de virar o 007, rolou uma gozação sobre o Roger Moore, alguém disse: meu nome é bunda, James bunda. Ele foi um péssimo 007, sem comparação com o Sean Connery. Soares ficou falando e falando que o ponto é que aquela invenção que aparece no filme era excelente, tinham que fazer aquilo, um aparelho que aquece a base de fusão a frio. Genial isso, e vocês tem que admitir o Val Kilmer arrebentou como Jim Morrison. Depois de dez minutos de todos ouvirem considerações sobre filmes o grupo se dispersa, entram em outras conversas pelos cantos da sala. Soninha chega perto do Lucio e pega o seu braço e agradece muito pelo vídeo, muito gentil da parte dele dar um presente tão caro e bem que precisavam de um novo, o agora antigo e em breve aposentado vídeo estava com defeito, a imagem ficava riscada etc. Lucio diz que não foi nada demais, afinal era só um vídeo cassete. e fica conversando animadamente com Soninha por uns 20 minutos sobre um aparelho que vai mesmo acabar com o VHS, uma coisa mais ou menos como o CD que ele ouviu uns amigos de uma loja de eletrônicos falarem a respeito, não tinham bem certeza, mas ia acabar com o vídeo. Ela achou gozado e gostou muito da conversa. Quando Lucio pergunta: então você namora o aniversariante? Vi você sentada no braço da cadeira dele antes. E ela diz que sim. Depois disso cada um vai para um canto da festa que acaba por volta de meia noite.

20/10/2000 – local: locadora de vídeo.

Soninha esta olhando as prateleiras, atrás de um filme para ver, olha com cara de atarantada a imensidão de filmes pelas paredes e parece perdida. Pega “dançando no escuro”, mas não tem bem certeza que é isso que quer ver. Quando chega no caixa olha o rapaz na sua frente e diz como que lamentando: putz, era este que eu queria. O rapaz vira-se e diz: este? E mostra a capa do filme. A moça lamenta: sim. Este mesmo, ouvi falar muito bem deste filme “amnésia”. O rapaz faz cara de quem lembra alguma coisa e pergunta: você não era a moça da festa que fui a uns dois ou três anos atrás? E moça olha com cara pensativa e diz: sim, sim. você foi o cara que trouxe o vídeo. Sim, sim. agora lembrei de você. E aí, o que você tem feito? Lucio faz cara de preocupado e lamenta um pouco: trabalho, muito. É ate bem raro ter tempo para ver filmes hoje em dia. Mas se quiser pode levar este, é só uma recomendação de uma amiga. Soninha fica vermelha de vergonha e diz: não, não. Você pegou ele antes. Não vou cortar seu barato, se já não tem quase tempo de ver filme nenhum. Lucio da uma risada: não, não mesmo. Eu ínsito que você leve ele. Acho que vou levar o “cara, cadê meu carro?” preciso mesmo dar umas risadas. Soninha como queria muito ver o filme que Lucio tinha na mão, não objetou muito. Na porta da locadora, já saindo trocaram mais algumas palavras. Lucio perguntou: então, como vai o soares. Vendo muito vídeo?
Ela fica desconfortável e diz: não sei dele e não quero saber, acabamos à algum tempo e não foi nada legal para nenhum de nós isso. Acabaram trocando telefones para baterem um papo e beber alguma coisa juntos uma hora destas. Quase duas semanas depois, Lucio telefonou para soninha e foram a um bar com musica ao vivo e lá conversaram. Ele pediu uma cerveja e ela uma cuba de coca, não podia ser pepsi. Conversaram durante horas:
- lembrei de você durante muito tempo – ela disse, - uma coisa ficou na minha cabeça.
- Ah é mesmo? – surpreso com esta afirmação – espero que seja por alguma coisa boa.
- Foi sim, - ela respondeu – aquela historia do DVD, sempre que vou a locadora e olho estas coisinhas lembro de você e daquela festa. Engraçado isso, não?
- Bobagem isso, - diz ele se divertindo com a lembrança de Sonia – coisa a toa...
- Mas e você? Ainda anda distribuindo vídeos cassete ou já são aparelhos de DVD hoje em dia? – ela brinca com ele – não, acho que agora já tem alguma outra novidade para divertir as festas de gente que você mal conhece...
- Não, aquilo foi bobagem, eu tinha ido a Rivera na época e tinha em casa aquele vídeo. Era para ser da minha tia, mas ela não soube nem ligar ele na tomada...- e da um sorriso de orelha a orelha.
Conversa vai, conversa vem. Já era quase duas da manhã, na saída ela diz que vai tomar um táxi para casa. Lucio pergunta se ela não tem carro, Soninha da um sorriso e diz: pergunta besta, se vou tomar um táxi como teria carro? Lucio responde:pode estar na oficina. Mas como não esta na oficina e esta na revendedora, vou te dar uma carona ate sua casa. Vão para o estacionamento, entram no carro e partem para casa dela. Na porta e já meio bêbada pergunta se ele não quer tomar uma saideira no apartamento dela. Ele imediatamente topa, estaciona o carro e sobe. Isso foi o começo de um namoro de três anos. Lucio trabalhava muito, como disse na locadora quando se reencontram. Depois de algum tempo precisou trabalhar ainda mais e quase não tinha tempo para Soninha, que reclamava constantemente a falta de atenção, o fato de Lucio não querer casar apesar de morarem juntos a dois anos e meio. Chegando a duvidar que haviam outras, mas Lucio era um rapaz correto e com paciência de jò, mas as brigas foram cada vez mais constantes e mais agressivas. Ate que decidiram romper com tudo, pois o clima era insustentável. Tinham cada um 25 anos e este clima já não era nada bom para ambos. Lucio fez as malas e foi embora.

12/10/2008 – local: festa de aniversario de Cardoso.

Lucio chega atrasado, muito tarde para o churrasco marcado para uma da tarde, quando entra no pátio da casa de Cardoso já haviam grupinhos de conversa formado. E ao seu lado esta Manuela, sua namorada. Ele passa cumprimentando todos e fica no meio de uns quatro ou cinco rapazes que falam do absurdo que foi a decisão do STJD que suspendeu três jogadores do grêmio com penas rigorosas demais, o campeonato era comprado para darem a um paulista o titulo como fizeram em 2005 com o inter. A conversa esta bem animada, Manuela esta num grupinho de meninas que falam de novela e fofocas do mundo dos artistas. Quando Lucio vê de longe Soninha, fica com um pouco de medo mas se aproxima e da um alô para ela. Soninha estava num dos grupos, não no de garotas. Estava num grupo que falavam das eleições que vinham a seguir em porto alegre, que mais quatro anos de PT não dá, mas Fogaça também não era uma boa. Mas eram os candidatos a irem para o segundo turno. Quando Lucio puxa ela para um canto e começa a falar: Sonia, você não sabe o quanto sinto sua falta. Não tive mais sossego desde que acabamos, durmo mal, vivo atrasado para o trabalho que já não rende mais tanto quanto aquela época, a vida esta um inferno e a nova namorada só quer sair para gastar dinheiro. Quando Lucio esta declarando suas mais secretas intimidades, quase em prantos, desesperado alguém se aproxima sorrateiramente e dá um tapão no ombro de Lucio e grita: AH SEU SAFADO, AQUELE VIDEO FOI UMA MÃO NA RODA. A QUANTO TEMPO, HEIN, SEU SACANA. NÃO TE VEJO DESDE AQUELA FESTA. Lucio, olha para trás e vê Soares. Da um sorriso amarelo e pede licença para ele dizendo que esta resolvendo um assunto particular, se ele não se importa. Soares diz que não, mas quando vai saindo grita: AMOR, SONINHA, VAI RAPIDO QUE ESTAMOS DE SAIDA. Ele congela por um instante chocado, como não acreditando no que acabou de ouvir quando cai a ficha para ele. Que olha no rosto de soninha totalmente sem graça que fala: que fim levou Elisabeth Shue?

26/10/08
21:51hrs

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

visão sobre o caso lindenbergh e a mídia


Luzes, flashes, câmeras de tv
Transmitem ao vivo o sofrimento de três pessoas,
Lindenbergh, Eloá e Nayara.
Repórteres atrás do furo, informações de cocheira,
Ou algo para aumentar o ibope;
Pouco importa o futuro dessas três pessoas dentro
Do cativeiro macabro ao qual estão presas.
Dentro dele o amor despedaçado,
As promessas de eterno amor se
Desfazem como um picolé no verão .
As horas passam, os momentos de terror
Vão ficando na memória dos reféns
E dos telespectadores abjetos que anseiam por um desfecho.
Seja ele qual for. A sorte dos participantes foi lançada
Pelos dados viciados do satanás.
Passam horas, passam dias, passam idéias na cabeça
Do seqüestrador que se mantém firme com seu coração ferido
Pelo ciúme doente que o trouxe ate aqui e agora não pode mais
Parar, fugir. Voltar atrás, apagar o que houve não é uma opção.
Matar e morrer é o que ele planeja na sua mente tortuosa e sinistra.
A vida de um homem foi jogada na lata do lixo,
Destruída por uma loucura súbita
Que vem do fundo da alma e não pode ser apaziguada
Por nada a não ser vingança pelo amor ferido.
Canais de televisão dando destaque exagerado demais,
Cobertura ininterrupta, vinte e quatro horas.
Mídia transformando um amor ferido no hype do momento;
Quatro dias passam, todos aguardam a hora do fim.
Policia ouve de dentro do apartamento um estampido,
Jogam uma bomba na porta, que não se quebra por inteiro,
Tem algo obstruindo o caminho,talvez um sofá, uma mesa;
O desfecho desta historia de amor é
Uma menina Nayara ferida no rosto, Eloá morta e Lindenbergh preso.
Paramedicos entram em cena, o seqüestrador é preso ainda com vida
Os telespectadores ficam tristes, mas aliviados,
Por ter chegado a um fim ainda que trágico.
Acabou a noticia, repórteres recolhem as suas câmeras e seus microfones.
Amanhã todo o drama destas pessoas, que encheram paginas e paginas
De jornal será papel para enrolar peixe.
O que houve com o caso Isabela Nardoni? Ou o caso João Helio?
As pessoas que por meses e meses deram destaque
estas tragédias ainda se importam com elas?
Ou em como ficaram as famílias?
Ou noticiaram o desfecho destas tragédias?
A resposta é NÂO então
Que venha o novo crime brutal, para ocupar os preciosos minutos e paginas
Dos jornais.
Azar dos brasileiros que vêem, se emocionam e esquecem
Tudo com a brevidade de um intervalo comercial.
Afinal quando é o próximo jogo da seleção mesmo?

13:09hrs
24/10/2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

o roto e as gostosas


Mulheres me odeiam, mas eu as amo ainda mais.
Algumas coisas são imutáveis,
Gostosas não gostam de derrotados
Olham sem dó nem piedade nossa cara arrasada;
De quem já desistiu á muito tempo
Da vida em sociedade.

Bucetas, tetas e bundas passam constantemente
Nos meus olhos que anseiam por um momento de prazer.
Um roto caído das batalhas da vida,
Sem chance, sem historia, sem uma vida.
Passando dias bebendo e fumando compulsivamente
Aguardando o juízo final.

Continuo como se isso fosse a coisa
Mais natural da vida,
Olhando estas mulheres lindas que
Nelas só desperto repulsa sem um pingo de compaixão
Sorte do dia:
“nosso primeiro e ultimo amor é o amor próprio”

14/10/08
15:16hrs

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

detetive lesma pega no meu pé.


A radio do bairro recebe um telefonema incrível, o repórter vai correndo para o local averiguar. Chegando lá, a dona senhorinha esta nervosa na porta quando o repórter Souza pergunta aonde esta. Dona senhorinha, uma viúva de 40 anos, sem filhos e muito bonita mas que não saia de casa e estava sempre de chambre e pantufas com uma cabeça de gato de enfeite leva Souza ate os fundos aonde passa o riacho do bairro e mostra o que ela achou hoje cedo. Souza fica horrorizado, é um pé humano decepado boiando na margem do rio. Souza grava uma matéria com dona senhorinha e volta para radio. Nas semanas que se sucedem, Souza voltou mais quatro vezes aquele local, por conta de mais quatro pés decepados. O bairro estava em polvorosa a esta altura. O que estaria havendo? Uma gangue sanguinária? Um serial killer andando por um bairro residencial? A policia foi chamada, fez as perguntas a dona senhorinha, recolheu depoimentos e não voltou mais. Então Souza, que farejava uma boa historia, se lembrou do lesma. Se conheciam de vista pelo bairro, não eram exatamente amigos. Pegou o numero do escritório do detetive e bateu um fio.
- alo? Gostaria de falar com o lesma, por favor?
- Sim, quem esta falando?
- Aqui é o Souza, da radio som das ruas. Quem fala aí?
- Aqui é Carminha, já vou chamar o lesma.
Carminha avisa ao seu namorado que lhe chamam no telefone e disse quem era, ele acabou de fazer a barba bem devagar, acendeu um cigarro e pegou o fone.
- sim, alô. – Souza deu um breve relato de tudo que estava acontecendo. – sim, entendo, te encontro na frente da casa desta senhora para darmos uma olhada. Tchau.
Duas da tarde lesma esta na frente de casa de dona senhorinha fumando uma cigarro e nada do Souza aparecer. Bate a campanhia e explica a senhora quem é e diz que o repórter esta atrasado e gostaria de dar uma olhada nas coisas. Se dirige aos fundos da casa, olha o riacho e desce pela encosta e sobe o rio ate onde pode se chegar a pé. O fim do caminho é os fundos de uma serraria. Lesma volta e encontra Souza de papo com dona senhorinha. Lesma que não conhecia Souza, um repórter de 50, 55 anos, que nunca conseguiu um bom emprego no ramo e acabou numa radio de bairro, cobrindo discussões entre vizinhos, ofertas de mercado do bairro, novos buracos na rua, tinha uma aparência meio acinzentada, quase careca, usava uma roupa rota e fumava um cigarro mata ratos. Quando viu lesma parou o papo com a dona e veio ao seu encontro.
- então, lesma, descobriu alguma coisa?
- Hm...acho que sim, o fim do riacho é numa serraria. Lugar perfeito para serrar pessoas. Vamos lá dar uma olhada?
- Claro, acho que esta historia pode me projetar para alguma radio melhor ou quem sabe um jornal. – Souza se vira e beija a mão de dona senhorinha, e volta-se para lesma continuando a conversa – tipo uma sessão de bairro, seria ótimo!
- Sei...vamos de uma vez...
No caminho vão conversando amenidades, futebol, noticias do bairro, fofocas entre vizinhos, administração do bairro que anda um lixo. Ate que Souza fala:
- sabe lesma, gozado este nome, mas não importa. Acho que você vai matar esta charada, policia idiota, nem deu bola para isso. É obvio que só pode ser coisa de serraria.
- Sei, vamos dar uma olhada antes. Não pode ser tão barbada assim...mas vamos lá!
Na frente da serraria eles vêem a porta aberta e vão entrando um sujeito simples vem ao encontro deles e pergunta o que eles querem. Lesma diz que precisa de uma pedaços de madeira para fazer uma prateleira e se possível serrar eles do tamanho certo. O funcionário diz que sim, podem ir no deposito escolher os pedaços que querem levar. “de graça, né?” diz lesma.
Depois de escolhidos os pedaços vão ate a serra e começa a conversar com o cara:
- pois é, perigoso isso, esta serra.
- Hahaha, para principiante talvez, é muito simples mexer nisso. É só por aqui e acertar ali. – mostra com a facilidade de quem esta habituado a fazer isso – ó, viu?
- E tem algum principiante trabalhando aqui, algum funcionário novo?
- Não, o patrão ate esta viajando. Deixou tudo comigo. O negocio esta devagar inclusive. Pronto, suas tabuas estão serradas. É só isso?
Eles pegam as tabuas e saem porta afora, e ficam conversando lesma e Souza:
- Acho que não tem nada ali demais. Dei uma boa olhada pela serraria, nada de sinal nenhum de sangue ou qualquer sinal de briga. E o sujeito parecia do bem, sujeito simples. Se tivesse alguma coisa na cabeça teria desconfiado. Foi super gente fina.
- É, gente fina ate demais,não achou? Isso é meio suspeito. Talvez esteja escondendo alguma coisa.
- Não creio, acho que é normal isso. Faço isso de pedir madeiras volta e meia, conheço este tipo de gente.
- Então, como se explica os pés serrados no riacho?
- Acho que é alguma gangue que esta desovando eles ali, passam de moto a noite sem ninguém ver e jogam eles ali. Provavelmente nem são daqui de perto. Foi dado alguém por sumido no bairro?
- Não, não que eu saiba.
- Então esta bem Souza, foi um prazer, e vai devagar na viúva...
- Hã?
- Hahaha...ate mais ver, a gente se fala...
Na sexta seguinte Souza teve um encontro com dona senhorinha, um jantar, uma bebidinha, musica. Os dois na meia idade e sozinhos, se deram bem naquela noite. No sábado, um senhor que mora descendo mais o riacho liga para a radio som das ruas, acharam um pé com pantufas cor de rosa enfeitado com a cabeça de um gato...

10/10/2008
14:09hrs