sexta-feira, 10 de outubro de 2008

detetive lesma pega no meu pé.


A radio do bairro recebe um telefonema incrível, o repórter vai correndo para o local averiguar. Chegando lá, a dona senhorinha esta nervosa na porta quando o repórter Souza pergunta aonde esta. Dona senhorinha, uma viúva de 40 anos, sem filhos e muito bonita mas que não saia de casa e estava sempre de chambre e pantufas com uma cabeça de gato de enfeite leva Souza ate os fundos aonde passa o riacho do bairro e mostra o que ela achou hoje cedo. Souza fica horrorizado, é um pé humano decepado boiando na margem do rio. Souza grava uma matéria com dona senhorinha e volta para radio. Nas semanas que se sucedem, Souza voltou mais quatro vezes aquele local, por conta de mais quatro pés decepados. O bairro estava em polvorosa a esta altura. O que estaria havendo? Uma gangue sanguinária? Um serial killer andando por um bairro residencial? A policia foi chamada, fez as perguntas a dona senhorinha, recolheu depoimentos e não voltou mais. Então Souza, que farejava uma boa historia, se lembrou do lesma. Se conheciam de vista pelo bairro, não eram exatamente amigos. Pegou o numero do escritório do detetive e bateu um fio.
- alo? Gostaria de falar com o lesma, por favor?
- Sim, quem esta falando?
- Aqui é o Souza, da radio som das ruas. Quem fala aí?
- Aqui é Carminha, já vou chamar o lesma.
Carminha avisa ao seu namorado que lhe chamam no telefone e disse quem era, ele acabou de fazer a barba bem devagar, acendeu um cigarro e pegou o fone.
- sim, alô. – Souza deu um breve relato de tudo que estava acontecendo. – sim, entendo, te encontro na frente da casa desta senhora para darmos uma olhada. Tchau.
Duas da tarde lesma esta na frente de casa de dona senhorinha fumando uma cigarro e nada do Souza aparecer. Bate a campanhia e explica a senhora quem é e diz que o repórter esta atrasado e gostaria de dar uma olhada nas coisas. Se dirige aos fundos da casa, olha o riacho e desce pela encosta e sobe o rio ate onde pode se chegar a pé. O fim do caminho é os fundos de uma serraria. Lesma volta e encontra Souza de papo com dona senhorinha. Lesma que não conhecia Souza, um repórter de 50, 55 anos, que nunca conseguiu um bom emprego no ramo e acabou numa radio de bairro, cobrindo discussões entre vizinhos, ofertas de mercado do bairro, novos buracos na rua, tinha uma aparência meio acinzentada, quase careca, usava uma roupa rota e fumava um cigarro mata ratos. Quando viu lesma parou o papo com a dona e veio ao seu encontro.
- então, lesma, descobriu alguma coisa?
- Hm...acho que sim, o fim do riacho é numa serraria. Lugar perfeito para serrar pessoas. Vamos lá dar uma olhada?
- Claro, acho que esta historia pode me projetar para alguma radio melhor ou quem sabe um jornal. – Souza se vira e beija a mão de dona senhorinha, e volta-se para lesma continuando a conversa – tipo uma sessão de bairro, seria ótimo!
- Sei...vamos de uma vez...
No caminho vão conversando amenidades, futebol, noticias do bairro, fofocas entre vizinhos, administração do bairro que anda um lixo. Ate que Souza fala:
- sabe lesma, gozado este nome, mas não importa. Acho que você vai matar esta charada, policia idiota, nem deu bola para isso. É obvio que só pode ser coisa de serraria.
- Sei, vamos dar uma olhada antes. Não pode ser tão barbada assim...mas vamos lá!
Na frente da serraria eles vêem a porta aberta e vão entrando um sujeito simples vem ao encontro deles e pergunta o que eles querem. Lesma diz que precisa de uma pedaços de madeira para fazer uma prateleira e se possível serrar eles do tamanho certo. O funcionário diz que sim, podem ir no deposito escolher os pedaços que querem levar. “de graça, né?” diz lesma.
Depois de escolhidos os pedaços vão ate a serra e começa a conversar com o cara:
- pois é, perigoso isso, esta serra.
- Hahaha, para principiante talvez, é muito simples mexer nisso. É só por aqui e acertar ali. – mostra com a facilidade de quem esta habituado a fazer isso – ó, viu?
- E tem algum principiante trabalhando aqui, algum funcionário novo?
- Não, o patrão ate esta viajando. Deixou tudo comigo. O negocio esta devagar inclusive. Pronto, suas tabuas estão serradas. É só isso?
Eles pegam as tabuas e saem porta afora, e ficam conversando lesma e Souza:
- Acho que não tem nada ali demais. Dei uma boa olhada pela serraria, nada de sinal nenhum de sangue ou qualquer sinal de briga. E o sujeito parecia do bem, sujeito simples. Se tivesse alguma coisa na cabeça teria desconfiado. Foi super gente fina.
- É, gente fina ate demais,não achou? Isso é meio suspeito. Talvez esteja escondendo alguma coisa.
- Não creio, acho que é normal isso. Faço isso de pedir madeiras volta e meia, conheço este tipo de gente.
- Então, como se explica os pés serrados no riacho?
- Acho que é alguma gangue que esta desovando eles ali, passam de moto a noite sem ninguém ver e jogam eles ali. Provavelmente nem são daqui de perto. Foi dado alguém por sumido no bairro?
- Não, não que eu saiba.
- Então esta bem Souza, foi um prazer, e vai devagar na viúva...
- Hã?
- Hahaha...ate mais ver, a gente se fala...
Na sexta seguinte Souza teve um encontro com dona senhorinha, um jantar, uma bebidinha, musica. Os dois na meia idade e sozinhos, se deram bem naquela noite. No sábado, um senhor que mora descendo mais o riacho liga para a radio som das ruas, acharam um pé com pantufas cor de rosa enfeitado com a cabeça de um gato...

10/10/2008
14:09hrs

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