terça-feira, 3 de junho de 2008

eu sou o maior cara que conheço.


Sentado aqui nesta sala de paredes mal pintadas e com moveis destruídos pensando em tudo que houve, chego de leve a dar um sorriso amarelo. Algumas coisas TEM que acontecer para algumas pessoas ou ao menos estas certas pessoas TEM que passar por fortes provas de caráter na vida. Foi de dificuldades que o mundo foi construído, como diz o velho ditado “ a rapadura é doce, mas não é mole não”; então só posso de certa forma agradecer por tudo que passei nesta vida dura que Deus me apresentou. Não podem ser sem lagrimas nos olhos que eu lembro de tudo que me aconteceu nos últimos seis meses e as marcas que me deixaram no coração e os males que se instalaram no âmago do meu ser, mas tudo muito justo no modo que eu vejo as coisas, repito algumas pessoas TEM que passar por provas de fogo para alcançar o seu fim por melhor ou pior que sejam as suas implicações. Dizem que nós não nascemos com alma, nós a conquistamos. Mas isso é uma questão para filósofos de plantão, voltemos a questão.calma, amigo leitor, já chego lá. Só são precisos algumas considerações para que o amigo leitor não faça idéia errada de quem esta contando esta historia. Sempre me vi como justo e amigável, dei e recebi muitas coisas na vida, amizades, dinheiro, posição social, carros e casas. Mas tem outro ditado que diz “para os amigos o certo, para os inimigos justiça”; esta é bem a frase que se encaixa na minha historia. Para os dois lados que podem deixar abertos esta frase. Na vida a gente perde e ganha, algumas vitórias nos fazem gigantes e algumas derrotas nos deixam abaixo do cu do cachorro. Posso dizer que vivi dos dois lados desta frase e sei a verdade contida nesta afirmação. Bom já falei demais, vamos aos fatos.
Eu era um jornalista ate que bem respeitável num jornal de media tiragem, mas que tinha um publico cativo, e de certo destaque na sociedade local. Comecei como repórter policial, passando noites e noites em claro de plantão numa delegacia no centro. Aos poucos foi melhorando as coisas, passei para setor político onde fiz amizades das mais variadas e ate seis meses atrás tinha a mamata de fazer só o editorial do jornal de domingo. Nunca tive problemas com o trabalho, sempre foi um prazer para mim poder exercer a profissão que sempre quis,enquanto muita gente acorda para fazer um trabalho que odeia . Me sentia um privilegiado por isso. tinha uma ótima relação com meus colegas de trabalho. Tudo corria as mil maravilhas para mim, mas nunca aprendi a manter o olho no padre e outro na missa. Chegando em casa um dia, depois de mais um dia jogando paciência o dia todo no trabalho e fazendo cara de ocupadíssimo, cheguei em casa e não tinha ninguém, chamei por minha mulher e ninguém respondeu. Olhei no quarto do meu filho e nada. Ninguém em casa. Ótimo isso, vou sentar para ver tevê e tomar uma cerveja em paz , sem ninguém para me aporrinhar o saco. Tirei o paletó no meu quarto amplo e muito bem mobiliado. Sentei na cama tirei os sapatos e depois deitei um pouco na cama, ouvindo o silencio da casa. Coisa rara naquele tempo, filho de dez anos correndo para lá e para cá, fazendo algazarra. Minha mulher já preparando a janta na cozinha vendo novela das seis. Mas hoje só havia o silencio( hoje eu sei que era a calma antes da tempestade) desfrutei daquele privilegio por uns quinze minutos e já descalço e sem gravata fui a cozinha. Cheguei lá e foi aí que tudo começou. Tinha um bilhete na porta da geladeira escrito com letras garrafais “ REGINALDO ISSO NÃO TEM DESCULPA!!! NÃO TOLERO MAL CARATISMO, SEMPRE FUI UMA ESPOSA FIEL, MAS ISSO PASSOU DOS LIMITES!!! PEGUEI MINHAS COISAS E FUI EMBORA, MEU ADVOGADO VAI ENTRAR EM CONTATO COM OS PAPEIS DA NOSSA SEPARAÇÃO!!! NÃO TENTE ME ACHAR, EU TENHO ASCO DE VOCÊ!! SEU FILHO DA PUTA!”. “Porra será que ela descobriu sobre a Claudia? Impossível, a Claudia nem sabe que sou casado”. Ficou sem palavras, pegou a cerveja e foi para a sala. Sentou na poltrona e ate esqueceu da tevê, ficou pensando no que tinha causado aquela situação. Não tinha resposta. Tomou diversas cervejas ate as dez da noite, ai partiu para o whisky ate as onze quando capotou ali na poltrona mesmo, com meio copo de whisky sem gelo. Acordou lá pelas oito e meia da manha nem sequer fez a barba e foi para o trabalho. Chegou lá deu o seu tradicional bom dia para o porteiro que estava ali desde a fundação do jornal há trinta anos e este nem respondeu. Muito estranho isso, pensou na subida do elevador ate o décimo andar onde ficava sua sala. Chegando lá, a secretaria lhe informou que o diretor queria ter uma palavra com ele. Botou a pasta em cima da mesa e foi ate a sala do diretor, que logo que o viu pelo vidro da sala de espera mandou entrar imediatamente. “Reginaldo, há quanto tempo nos conhecemos?vinte anos, não? Desde aqueles temos das noites de plantão na delegacia, não é?” “sim, eu acho que sim, Humberto. O que esta havendo?”. “hoje recebemos um pedido lá de cima para te despedir, disseram que não era para perguntar o motivo, mas que não podíamos mais ter você entre nós!”. Reginaldo já não entendia porra nenhuma do que estava acontecendo, sentou numa cadeira e começou a chorar. “olha Humberto, ontem minha mulher me deixou e eu ainda nem sei o motivo.E agora isso? Você não pode me dizer o motivo real? Vamos, não podem fazer isso assim sem dar uma razão!!”. Reginaldo já soluçava e seus olhos estavam encharcados. “serio Reginaldo, deram motivos vagos Reginaldo, mas disseram que ate a policia pode entrar nesta historia e você esta em maus lençóis que você andou com uma turma da pesada e agora vai estourar no seu colo. Só disseram isso.” Reginaldo enxugou as lagrimas e em um estado de dar dó se recompôs e saiu em passos lentos em direção a sua sala, lá recolheu alguns pertences e voltou para a garagem entrou no carro e voltou direto para casa. Chegando lá pegou direto o whisky ainda as onze da manhã fechou os olhos e bebeu.
Três da tarde o telefone tocou, reginaldo em estado deplorável atendeu “alô?”; “Reginaldo sabe quem esta falando?”; “sim”, “então sabe o que houve, não? “ sim”, e desligou o telefone. Finalmente ele se levantou da poltrona da sala e foi em direção ao quarto pensando “porra, aqueles canalhas da trigésima oitava cagaram para dentro, filhos da puta. Depois de quinze anos eles deram com a língua nos dentes podres deles. Agora vai aparecer em tudo que é jornal, no meu inclusive, que eu e mais uma cambada de policiais vagabundos extorquíamos, torturávamos, e matávamos traficantes de drogas indigentes que mereciam mesmo morrer, viados que viciavam ate as crianças para ter lucro. Este esquema estava nos trilhos por quinze porra de anos. Agora tinha que foder tudo? O que eu vou fazer? Este vexame não vou passar, nem morto. Mostrar minha cara na tevê, meus vizinhos vão me ver na tevê como o supra suma do banditismo, estes putos que jogam golf comigo no country club vão fingir que não fazem nenhuma sujeira nem desviam milhões de dollares por ano dos cofres destas porras de empresas que dirigem, comigo não seus viados, filho da puta, NÃO MESMO!!!”. Reginaldo entrou totalmente bêbado no quarto tirou o fundo falso da gaveta e pegou seu eagle .40 importado de lá e sentou olhando para esta beleza de arma por uns instantes. Passou tudo que conquistou na vida, suas namoradas, aquela putinha da vizinha na praia que deu na primeira noite, a márcia na faculdade que insistia que o punk era a maior invenção da musica, sua amante Claudia uma menina burra que de 18 anos que gostava de trepar de quatro, sua mulher Joyce que sempre lhe fez tudo na vida e que ele amava sinceramente. Pensou na sua casa na praia, seu apartamento cobertura em um bairro nobre que não era pouca coisa não, seu jaguar na garagem sonho de muitos babacas sem culhões para saber como ganhar o verdadeiro dinheiro. Fechou os olhos e pos a arma na testa sentindo o cano frio encostado ali, ele suando frio, parado como uma estatua e o dedo coçando no gatilho. Seu cérebro corria a cem mil por hora e perdeu a noção de tempo. Chegou o momento de mostrar que era homem de verdade e apertar a merda do gatilho para evitar um escárnio publico e ir para cadeia. Quando decidiu por fim em tudo abriu os olhos e viu Joyce parada na sua frente. Ai afrouxou tudo. Se jogou aos pés dela e pediu perdão por tudo. E hoje estou aqui, numa clinica para doentes mentais de classe media, olhando tevê com um bando de doidos de pedra e drogados que eu sempre odiei. Tudo que se seguiu foi um espetáculo da mídia acabaram com todos, delegados, policiais, e obvio, alguns traficantes figurões. Mas Reginaldo escapou mais ou menos ileso. E sentado numa sala com uma pintura horrível e moveis acabados ele pensa em voz alta “EU SOU O MAIOR CARA QUE EU CONHEÇO!”.

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